A crise não parece ter fim PD48 | Page 30

para colocar o tema, definitivamente, na pauta nacional e mobili- zar a opinião pública em prol do novo sistema. Seria muito posi- tivo e interessante que o PSDB, partido criado em pleno processo da Constituinte a partir de uma dissidência do PMDB que se afir- mava como parlamentarista, assumisse a liderança do debate e encampasse esta bandeira, reencontrando-se, inclusive, com as suas próprias origens. No parlamentarismo, quando não é possível formar uma nova maioria parlamentar, a Câmara é simplesmente dissolvida e são convocadas novas eleições – o que leva a uma participação ainda maior da cidadania no processo, fortalecendo a própria democracia. A degradação absoluta do chamado presidencialismo de coalizão, transformado em “presidencialismo de cooptação” como bem definiu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi elevada à enésima potência sob os auspícios de Lula, Dilma e do PT – e o resultado desastroso se materializou nos dois maio- res escândalos de corrupção de nossa história, o mensalão e o petrolão. É chegado o momento de todos aqueles que têm espírito público e compromisso com a democracia debaterem seriamente a instituição do sistema parlamentarista no país. Necessitamos de um regime mais dinâmico, flexível, democrático e que viabi- lize, como consequência, partidos fortes e uma cidadania cada vez mais atuante. O parlamentarismo é a verdadeira reforma política de que o Brasil precisa. Outra grande questão que se coloca é se haverá disposição e coragem para que sejam levadas adiante alterações que modifi- quem profundamente as estruturas estabelecidas e, sobretudo, criem condições para o surgimento de uma nova política. Ao contrário do que muitos imaginam, as graves distorções do modelo eleitoral brasileiro não decorrem da possibilidade de serem criadas novas agremiações. Partido político, afinal, é direito de cidadania e não deve ser tutelado, regulamentado ou restringido pelo Estado ou por qualquer legislação. Basta observarmos o que acontece nas democracias mais avançadas do mundo, onde não há nenhuma lei que coíba o surgimento de novas legendas. Um exemplo ilustrativo vem dos Estados Unidos, país no qual funcio- nam plenamente mais de 100 partidos (embora se pense que sejam apenas dois, o Democrata e o Republicano). Há, inclusive, a possibilidade de candidaturas avulsas – sem ligação com qual- quer partido político – para os diversos níveis de disputa no sistema eleitoral norte-americano. 28 Roberto Freire