A tentativa, no primeiro governo Lula, de governar com o apoio do
PMDB, mas sem a sua participação proporcional, resultou no
Mensalão. A incorporação do PMDB no governo, por sua vez,
alimentou a Lava-Jato.
Se essa política deve ser vista com as informações de que dispo-
mos hoje, como um erro colossal, como compreender sua adoção e
manutenção por anos a fio? É claro que alguns sucessos do governo
Fernando Henrique e do primeiro período de Lula alimentaram a
visão da política brasileira como o palco no qual dois partidos
programáticos gerenciavam o apoio do fisiologismo. Essa imagem
de Werneck Vianna, muito citada por Fernando Henrique, descre-
via bem a situação do momento. Nada dizia, contudo, sobre a
sustentabilidade desse arranjo no médio prazo.
Podemos especular sobre as motivações pragmáticas do PT para
se diferenciar do seu concorrente direto nas disputas presidenciais.
Podemos ainda discutir uma tendência possível de interpretar o
conjunto da política nacional através do prisma da conjuntura
paulista. Penso ser mais produtivo analisar as premissas que podem
ser usadas para justificar essa opção. Na minha opinião, são três
essas premissas, todas devidamente desmentidas pelos fatos.
Em primeiro lugar, a preponderância do Estado sobre a socie-
dade, tributária da ideia antiga que faz depender todo movimento
de mudança à condução esclarecida de uma vanguarda, capaz de
recolher as demandas populares e processá-las na forma de deci-
sões políticas racionais. Nesse aspecto, as jornadas de 2013 mostra-
ram que alguma coisa não funcionava como previsto.
Em segundo lugar, a preponderância do Executivo sobre o
Legislativo. Outra ideia antiga que afirma a capacidade de o Execu-
tivo impor sua vontade aos legisladores como uma constante da
política. O processo de impeachment desmentiu essa premissa, ao
menos na sua versão absoluta.
Em terceiro lugar, a neutralidade política do fisiologismo, do
atraso, do centrão, qualquer que seja o nome dado ao grupo de
parlamentares que se posiciona na política mais do lado da oferta,
menos no da demanda, de apoio parlamentar. Menos expostos às
cobranças partidárias, esses deputados tendem a ser, no entanto,
mais sensíveis às demandas dos grupos empresariais que finan-
ciam suas campanhas, como ficou demonstrado em diversas
votações em que os interesses do governo foram contrariados nos
últimos anos.
Razões da crise
15