duramente criticado pelo partido. Nos dois mandatos de Fernando
Henrique, o PT fez oposição sistemática a toda a agenda moderni-
zante do governo e à possibilidade de aliança ficou mais distante.
No início do governo Lula, a situação havia mudado. Depois de
uma pauta de campanha que aceitou o processo de estabilização da
economia, com todas as suas implicações; de uma transição de
governo bem-sucedida; da defesa, ainda que tímida, de uma agenda
reformista que contou com o apoio do PSDB, na oposição, e do PPS,
então no governo, uma janela de oportunidades para uma nova polí-
tica de alianças do PT parecia aberta. Contra essa nova política, pesa-
vam dois fatores importantes: a forte resistência das bases do PT,
educadas num discurso político salvacionista, e a oferta permanente
de apoio, mais fácil e imediato, de uma grande massa de deputados
situados politicamente entre o fisiologismo e o conservadorismo.
O momento decisivo para a definição ocorreu no início de 2003,
quando a proposta de reforma política apoiada por PT, PSDB, PFL,
PDT, PSB e PPS, de listas fechadas com financiamento público de
campanha, estava a ponto de ser votada em plenário. Por pressão
dos demais partidos, o PT retirou seu apoio ao projeto, enterrou a
reforma política e demarcou seu campo de alianças, tendo como
principal referência aliada a centro-direita conservadora.
Vale lembrar que esse movimento do PT não apenas assegurou
mais 15 anos de vigência à regra eleitoral, mas, como a aliança
replicou-se nos estados, deu sustentação política a velhas elites
regionais e, consequentemente, a suas bancadas parlamentares,
concentradas nos partidos contrários à reforma.
O PT teve uma segunda oportunidade de redirecionar sua polí-
tica de alianças. Em 2013, na onda das manifestações populares,
que tinham na mudança da política um dos pontos centrais de
reivindicação, a presidente Dilma poderia ter encabeçado uma
ampla concertação parlamentar pela reforma política. Ao invés de
fazê-lo, optou por insuflar propostas diversionistas que em nada
resultaram, como plebiscito ou Constituinte exclusiva.
Parece evidente hoje que essa política redundou num fracasso
completo. Poderia ser avaliada como um sucesso parcial se os obje-
tivos do governo fossem manter inalterado o status quo econômico,
social e político do país. No entanto, à luz dos objetivos declarados
nas campanhas do PT, ou seja fazer avançar a democracia e recuar
a pobreza e a desigualdade, essa política de alianças deve ser
reprovada em toda linha.
Além disso, nas duas variantes que se sucederam, a aliança
com o chamado “centrão” aumentou a vulnerabilidade do partido.
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Caetano Araújo