A crise não parece ter fim PD48 | Page 147

vivência humana (ALBERGONI, 1995). Com a internalização do conceito de excedente, a destruição de florestas, a contaminação das fontes de água e a exploração descontrolada de minas, que preexis- tiam à escravidão, expandiram-se em uma velocidade maior, ampliando as assimetrias de propriedade material e de poder dentro do corpo social, pretendendo cada grupo aumentar a dotação de bens por habitante e criar grandes domínios. Contudo, isso aconte- cia ainda dentro de uma possibilidade de resiliência em decorrência da magnitude dos impactos que, de certa forma, se reduziram na passagem da Antiguidade Clássica para a Idade Média. Entretanto, a busca incessante de crescimento da riqueza e acúmulo material, ao nível individual e ao nível social, infletiu para cima a curva de adoção de tecnologias produtivas no século XVIII. O sinal vermelho foi aceso em 1750, com o início da Revo- lução Industrial e, de lá para cá, não há registro de redução de intervenções produtivas. Urge, no ingresso do século XXI, buscar incessantemente redefinir esta desequilibrada relação do homem com a natureza, que vem adquirindo proporções gigantescas, aproximando a humanidade de cataclismas. Inobstante seja isto um fato, ainda não são questionados os valores que inspiraram intervenções econômicas que se deram no século XVI com os projetos de colo- nização e no século XX com as equivocadas políticas de cresci- mento econômico e de consumo material, a qualquer custo. Recentemente, pesquisadores descontentes com as análises tradicionais sobre os fenômenos da acumulação produtiva mencio- naram a possibilidade de ocorrência de grandes riscos planetá- rios, se nada fosse feito. A questão central residiria nas expecta- tivas criadas de disseminação do denominado bem-estar material a todos os habitantes do planeta. Esta hipótese distributiva tem fundamento na crença de que não há limites para exploração dos recursos naturais e na suposição iluminista de que o conheci- mento científico-técnico geraria progresso técnico para beneficiar igualmente todos os habitantes do planeta. A forma como se daria esta disseminação do progresso técnico seria a utilização de tecnologias cada vez mais eficientes no converter recursos natu- rais em produtos, ou seja, a intensificação daquilo que se vem fazendo a partir da Revolução Industrial. A continuidade desta visão, combinando o incentivo ao consumo material com o uso sem limite de energia e recursos naturais, levou pesquisadores a estimarem que a humanidade em A biocivilização na passagem da era industrial para a pós-industrial 145