vivência humana (ALBERGONI, 1995). Com a internalização do
conceito de excedente, a destruição de florestas, a contaminação das
fontes de água e a exploração descontrolada de minas, que preexis-
tiam à escravidão, expandiram-se em uma velocidade maior,
ampliando as assimetrias de propriedade material e de poder dentro
do corpo social, pretendendo cada grupo aumentar a dotação de
bens por habitante e criar grandes domínios. Contudo, isso aconte-
cia ainda dentro de uma possibilidade de resiliência em decorrência
da magnitude dos impactos que, de certa forma, se reduziram na
passagem da Antiguidade Clássica para a Idade Média.
Entretanto, a busca incessante de crescimento da riqueza e
acúmulo material, ao nível individual e ao nível social, infletiu
para cima a curva de adoção de tecnologias produtivas no século
XVIII. O sinal vermelho foi aceso em 1750, com o início da Revo-
lução Industrial e, de lá para cá, não há registro de redução de
intervenções produtivas.
Urge, no ingresso do século XXI, buscar incessantemente
redefinir esta desequilibrada relação do homem com a natureza,
que vem adquirindo proporções gigantescas, aproximando a
humanidade de cataclismas. Inobstante seja isto um fato, ainda
não são questionados os valores que inspiraram intervenções
econômicas que se deram no século XVI com os projetos de colo-
nização e no século XX com as equivocadas políticas de cresci-
mento econômico e de consumo material, a qualquer custo.
Recentemente, pesquisadores descontentes com as análises
tradicionais sobre os fenômenos da acumulação produtiva mencio-
naram a possibilidade de ocorrência de grandes riscos planetá-
rios, se nada fosse feito. A questão central residiria nas expecta-
tivas criadas de disseminação do denominado bem-estar material
a todos os habitantes do planeta. Esta hipótese distributiva tem
fundamento na crença de que não há limites para exploração dos
recursos naturais e na suposição iluminista de que o conheci-
mento científico-técnico geraria progresso técnico para beneficiar
igualmente todos os habitantes do planeta. A forma como se daria
esta disseminação do progresso técnico seria a utilização de
tecnologias cada vez mais eficientes no converter recursos natu-
rais em produtos, ou seja, a intensificação daquilo que se vem
fazendo a partir da Revolução Industrial.
A continuidade desta visão, combinando o incentivo ao
consumo material com o uso sem limite de energia e recursos
naturais, levou pesquisadores a estimarem que a humanidade em
A biocivilização na passagem da era industrial para a pós-industrial
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