homem se transformou no maior predador dos animais por ele
domesticados, sem que os mesmos entrassem em pânico, resistis-
sem ou tentassem a fuga. (BARRAU, 1989).
Após mais de 400 mil anos de haver se tornado bípede e ter
dado início à ocupação das pradarias, sem renunciar completa-
mente à fruição das florestas tropicais úmidas nas quais vários
grupos de primatas ainda habitam, os humanos inauguram outra
relação com a natureza, diferente do extrativismo que, a depender
da intensidade do esforço de extração, coleta, caça e pesca, permi-
tia uma completa resiliência. Nesta nova relação que foi fruto da
primeira revolução agrícola, o homem passa a selecionar e a
fomentar o cultivo de determinadas espécies de vegetais, rompendo
com aquele equilíbrio que decorria da simples retirada sustentá-
vel de animais e frutos, naturalmente disponibilizados. O cultivo
de determinadas espécies se deu, principalmente, fora de onde
medravam espontaneamente. Este local de plantio diferente que o
homem descobriu como de grande potencial eram as várzeas dos
rios caudalosos que, em decorrência dos ciclos hidrológicos, se
tornavam disponíveis nos períodos de menor volume de água,
umedecidas e fertilizadas naturalmente em decorrência do fenô-
meno da colmatagem, deposição de partículas de nutrientes
arrastados deste as nascentes até as fozes ou estuários. (GODE-
LIER, 1995; FABIETTI, 1995).
Estas intervenções dos primórdios da civilização humana, até
mesmo quando visavam abastecer grandes cidades, já na era dos
grandes impérios da Antiguidade Clássica, não chegaram a afetar
o equilíbrio natural e nem gerar respostas defensivas da natu-
reza, tipo A vingança de Gaia. 2 Contudo, o grau de intervenção
sobre a natureza, existente desde tempos imemoriais, se acentua
após a descoberta dos metais e sua utilização na fabricação de
armas mais letais e de instrumentos de trabalho mais eficientes
em termos de produtividade do esforço humano.
Com armas mais letais, grupos populacionais deram início à
conquista territorial, que se dava, em certos casos, em prejuízo de
outros grupos que, uma vez derrotados, eram convertidos em escra-
vos. A escravidão se tornou fonte de um processo de acumulação
material que excedia às necessidades de sobrevivência, por instituir
o trabalho imposto e não remunerado. O trabalho imposto incre-
mentou a geração do excedente e da acumulação dando início a
intervenções na natureza que iam além das necessidades da sobre-
2 Livro de autoria de James Lovelock, editado no Brasil, em 2006, pela Intrínseca.
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Amilcar Baiardi