A Clava #1 (Out-Nov, 2018) | Page 7

APOLITEIA A MERA POLÍTICA NÃO É A SOLUÇÃO Por B. Giulio Cesare P. Só me permito àquilo a que posso renunciar. Apoliteia refere-se essencialmente à atitude interior. O homem em ques- tão reconhece que ideias, motivos e objetivos dignos do compromisso do verdadeiro ser de alguém não existem hoje... Julius Evola T omamos como ponto de partida neste artigo o concei- to de Apoliteia, visto do ponto que os estóicos, por exemplo, utilizaram para dar “substância” às suas considerações acerca da Polis. Iremos nos privar do termo “apolítico”, posto que no fundamento de sua terminologia entendida literalmente, não pode fazer uma referência in- concussa ao que estamos tentando elucidar em suas formas mais amplas, dado que não há um desinteresse pela política fundamentado em alguma espécie de niilismo ou indiferen- ça bitolada referente às conjunturas, mas tão somente em sua natureza fundamental e seus fins. que mais ou menos se manifestam de formas limítrofes no tecido social e em seus meandros políticos. Para isso, a desvinculação desses preceitos políticos, que não se basei- am precisamente numa ordem cósmica e orgânica bem fundamentada, resulta na “apoliteia” desse ente social o qual Zenão se refere e o qual tentamos buscar em sua essência. Para considerações mais amplas acerca desse tema, tere- mos outra oportunidade em um próximo volume. A democracia liberal é a ilusão de ordem. É potência da quantidade, dispersão de intenções. Aquilo que é qualitativo é solapado; o quantitativo impera como ofuscante reflexo da interioridade fundamental dos homens das sociedades hodiernas. O que é o voto, a participação política nas infa- mes democracias liberais? É a redução numérica da mani- festação de um equívoco. Uma via que não pode ser biuní- voca com a complexidade das formações humanas no pro- cesso político. O acaso manifesto dos múltiplos desejos individuais postos em resoluta desordem na tentativa de sintonia orgânica das massas. O voto é a legitimação da violência burocrática de lados opostos igualmente motiva- dos pelos interesses da individualidade mais profícua. A efetividade desse modelo não se faz em seu ato puramente individual, mas nas suas consequências quando entendidas como uma miríade de circunstâncias pessoais e emotivas que não podem ser medidas pelas simples réguas do racio- nalismo político, dos cálculos dos “especialistas”. O caos é o fundamento primeiro de todas as coisas que se baseiam em tudo o que é posto em análise pela consciência coletiva já totalmente dispersa em objetivos claros e elevados. Na construção da polis democrática, somente um observador solitário, que pretende conhecer a realidade o fundamento Zenão, fundador do estoicismo, no decorrer de seus traba- lhos, descreveu a Polis como a constituição contingente de uma cidade, vista de seu aspecto material e toda a conjun- tura que abrange os aspectos sociais. Mas para Zenão, cons- tituir essa Polis não era necessariamente estar inserido em uma lógica vagamente fundamentada do indivíduo social; era necessária uma constituição muito própria, manifesta- ção de uma condição anterior ao mero ente social. Na cons- trução de uma nova physis e uma nova psyché, busca-se essencialmente o que pertence ao domínio interior. O cos- mopolitismo presente nas ideias estóicas das origens e mais de forma residual, nos posteriores, não era um imperativo de um mundo sem fronteiras como o é pregado nos tempos hodiernos, mas fruto de uma ordem interna que se manifes- ta na ordenação externa, estando submetida a um ordena- mento da junção da natureza + lei (No sentido de um orde- namento do logos). O tipo de homem o qual se refere, de uma condição diferenciada dos condicionamentos mera- mente sociais e políticos, é sobretudo, de uma independên- cia ampla, que possa estar desvinculado de certos dogmas 6