A Clava #1 (Out-Nov, 2018) | Page 2

R econhecemo-nos. Sabemos quem somos e para que viemos. Sabemos ler os sinais externos de uma nobreza interior, as marcas de uma estirpe que o Destino dispersou no tempo e no espaço. As forças que se libertaram do subsolo não podem nos atingir; decepamos seus tentáculos; então, libertos, reunimo-nos (novamente) para um contragolpe fundamental. Nossos princípios - de que somos o corpo - orientam a humanidade desde sempre, não estão sujeitos ao perecimento. Se a guilho- tina, a forca e o fuzil não puderam matá-los, rimo-nos do ostracismo que nos é imposto, e atordoa às fileiras inimigas como nossas ideias retornam e grassam sem precisar de promoção oficial, do Estado ou das mídias de massa, como se brotassem naturalmente da terra - pois de fato brotam da terra, que Urano fecundou. Como almas que retornam sempre em novas posições estratégicas do campo que é o mundo, aqui estamos, e somos inextinguíveis. Encontramo-nos alocados na Idade Obscura, em um deserto que cresce. Revolução após revolu- ção, a subversão moderna já se instalou, já ergueu seus templos, seus quartéis generais, e já envolveu com sua teia aderente todo o globo terrestre, agora à sua sombra. Em tais circunstâncias, em que as antigas instituições se desintegraram, os seres de nossa espécie não encontram suporte externo de ação, a não ser a duras penas. Muitos de nós por isto cedem, desistem, rendem-se ao niilismo, extravi- am-se. Pois a corda estendida do animal ao supra-humano tornou-se, em nossa época, um labirinto. Nestas vias tortuosas, contudo, mestres e guias deixaram-nos pistas e mensagens. A Verdade que transmitem retifica a senda. Não é por se desdobrar em ato que Ela nos transforma e transforma o mundo, mas em si, no ato de sua recepção ou acesso, Ela já desencadeia sobre nós seu poder transfor- mador inerente. É através de um trabalho silencioso, de um heroísmo que dispensa espectadores, de um alpinismo da alma, de um abrir de olhos que rasga os véus da ilusão e da desilusão, que experimen- tamos uma verdadeira transubstanciação, e vimos então a ser o que desde sempre já somos – e sem isto não há atitude externa (social ou política) digna do nome de ação. O pragmatismo é força de gravidade que nos puxa cada vez mais forte para os planos inferiores de que devemos nos libertar. Externalizar-se significa materializar-se e, sem prévia individuação espiri-