Quem é o contador de história no contexto histórico e social em que estamos inseridos? Está presente no nosso imaginário o narrador de histórias como uma figura antiga, uma pessoa que é reconhecida pela comunidade em que está inserida como narradora, e que vive no seu cotidiano a prática de contar histórias que aconteceram consigo, que inventou ou que vieram da cultura tradicional.
Esses narradores começaram a contar histórias a partir da necessidade de compartilhar experiências que um dia tiveram como ouvintes em casa, na escola, no seu bairro ou pela voz de outros contadores. A necessidade humana fundamen tal de transcender questões como o tempo, o trabalho, as relações humanas, a morte, entre outras, é o que inspira essa prática e a perpetua. A imaginação criadora, desperta da ao se ouvir uma narrativa, é libertadora, pois permite o convívio com o inexplicável e com o desconhecido.
A arte de contar histórias implica numa experiência intensa de relacionamento humano que possibilita aos ouvintes o auto conhecimento e compreensão de sua existência a partir da experiência das personagens da narrativa. Ouvir ou contar uma história é colocar-se em situação, o participante de uma narração de histórias sempre cria um relação pessoal com a história contada. Segunda a pesquisadora Regina Machado:
Ao relatar como foi a experiência de ouvir um determinado conto, cada pessoa mostra que ouviu “um“ conto, o seu. Algumas coisas chamaram sua atenção e outras não. Às vezes ela é o personagem e vive com ele suas aventuras, outra pessoa observa o cenário como alguém que vê de fora o desenrolar da trama, outra pessoa se emociona e uma outra, ainda, se pergunta sobre a adequação de tal ou qual episódio e assim por diante. (MACHADO, 2004: 23).
Por isso que muitas narrativa tradicionais trabalham com personagens sem nome ou com nomes genéricos (por exemplo: a Menina e o Porquinho, a Bela Adormecida, João e Maria, a Menina e os Fósforos, João e o pé de feijão, O menino que saiu de casa para saber o que era o medo, etc.) para que o ouvinte possa melhor imaginar-se. (BETTELHIEM, 1903: 51)
O narrador conta histórias a partir da sua experiência, mesmo quando conta uma história de outrem, ele reconta a partir de uma assimilação pessoal, fazendo do que conta a sua própria história. Segundo Walter Benjamin em O Narrador:
(...) o narrador entra na categoria dos professores e dos sábios. Ele dá conselho – não como provérbio: para alguns casos – mas como o sábio: para muitos. Pois lhe é dado recorrer a toda uma vida. (Uma vida, aliás, que abarca não só a própria experiência, mas também a dos outros. Àquilo que é mais próprio do narrador acrescenta-se também o que ele aprendeu ouvindo. (BENJAMIN, 1994: )
Quando é dito que o narrador entra na categoria dos professores e dos sábios o que é ressaltado é sua importância e utilidade no sentido de trazer a tona algum tipo de sabedoria: uma narrativa pode contar uma lição, um conselho ou um ensinamento que faci lite a convivência das pessoas entre si e com o mundo que as cerca. Ao ouvir uma história é possível imaginar-se na situa ção narrada e refletir sobre como agir ou reagir a determi nadas situações.
O contador de histórias trabalha com um trânsito épico entre o dentro e o fora da narrativa, ora se colocando em situação, ora como voz onisciente que suplanta a história. O gênero épico e expressiva, nele são narrados grandes acontecimentos reais ou ficcionais.
O gênero épico é a narrativa em versos que apresenta um episódio heroico. Na estrutura épica temos: o narrador, o qual conta a história praticada por outros no passado; a história, a sucessão de acontecimentos; as personagens, em torno das quais giram os fatos; o tempo, o qual geralmente se apresenta no passado e o espaço, local onde se dá a ação das personagens. Neste gênero, geralmente, há presença de figuras fantasiosas. Dentre os principais poemas épicos temos: Ilíada e Odisseia.