A Capitolina 9, setembro 2014 | Page 19

"Estou sozinha com meu cálice de champanhe, o primeiro. Comi uma barra de chocolate só pra fingir que nada me importa, mas tudo me importa como nunca me importou nesta noite em que estou sozinha, tentando ficar bêbada, prestes a ser gorda, infernizada por recordações do passado e impaciente para inventar um futuro." Martha Medeiros

E assim começa essa obra de Martha Medeiros, uma das autoras brasileiras mais conhecidas da atualidade. De cara se percebe a leveza [e pesar] do texto que vem pela frente... Martha, 'embriagada' [ou prestes a isso] 'conversa' com o leitor, enquanto a chuva cai lá fora... Sua "Noite em Claro" será longa... ou até quando a chuva parar de cair... O texto fala sobre memórias da narradora, que se encontra sozinha em sua residência, numa longa noite chuvosa. Triste, melancólica e solitária, ela solta seus pensamentos no papel, escrevendo até que a chuva cesse lá fora... mas e quanto à chuva que cai por dentro? Por dentro, ela continua gotejando, tempestuosa...

O livro traz muitas passagens profundas, e tem apenas 64 páginas... é um conto denso, carregado de solidão existencial em tons de cinza... a escrita de Medeiros é de fácil compreensão... ela não precisa de palavras difíceis pra expressar sentimentos complicados... mas nem por isso cai no lugar-comum... Costumo compará-la a Caio F. Abreu, ela sabe [assim como ele] escrever sobre coisas doloridas de forma poética, bonita... Uma história repleta de amores confusos, de finais [in]felizes, com pitadas de delírio, prazer e nostalgia... Conversa regada a chuva e champanhe... "Mulheres infelizes costumam ter uma vida interessante.", já diz Martha em Noite em Claro... Quem sou eu pra discordar ou duvidar disso?

Noite em Claro

Maria Valéria

MEDEIROS, Martha. 'Noite em Claro'. L&PM Pocket. 2012. 1 edição. 64 páginas.