Escrituras 14
desdobrada pelo último, como também por Campanella (ABBAGNANO, 2007, p.733). A magia retorna ainda no Romantismo Alemão em Novalis, Goethe, etc. No final séc. XIX e metade do XX a magia torna-se então somente uma categoria de interpretação na sociologia e na psicologia. Do séc. XX em diante vemos um retorno da magia associado a movimentos como o neo-paganismo, wicca, new age, e correntes correlatas, como também pode ser incluída nos Novos Movimentos Religiosos (NMR).
No âmbito das sociedades iniciáticas modernas percebemos a predominância da magia na Ordem Hermética da Aurora Dourada e suas ramificações posteriores (A. O. Alfa et Omega [S. L. Macgregor Mathers], Sociedade da Luz Interior [Dion Fortune], Builders of the Adytum [P. Foster Case], Thelemic Order of the Golden Dawn, etc.), como também no movimento Thelemita (A.A. [Aleister Crowley], O.T.O – sistema maçônico que após Crowley passa a possuir um caráter mágico-cerimonial) ou em demais ordens ou práticas cerimoniais (Societas Rosacriciana in Anglia, Elus Cohen).
3. A imaginação e a mediação pressupõem a interligação entre estas e as correspondências e as forças naturais. São destas interligações que surgem os ritos, símbolos, angelologias, etc. Faivre indica uma diferenciação importante entre o esotérico e o místico, no qual o primeiro inclui em seu sentido um “iniciador”, ou seja, aquele que transmite (mediação) um conhecimento ou prática, enquanto o segundo termo dispensa tais mediações (FAIVRE, 1994, p.19).
O esotérico visa, sobretudo, as mediações e revelações, pelo qual o uso da imaginação é essencial. Porém, isto não pode impedir que esoteristas possuam traços místicos ou vice-versa. Ainda sobre a imaginação, podemos perceber sua importância não somente no âmbito da magia, mas em toda a experiência humana (cognitiva, inventiva, religiosa). É com a imaginação que o homem estabelece uma intricada estrutura significativa e explicativa do mundo. Faivre faz referência neste elemento ao que Henry Corbin chama de mundus imaginalis, um mesocosmo, um mundo intermediário o qual teria relação cognitiva e visionária (FAIVRE, 1994, p.20).
4. A Transmutação remete à “metamorfose”, ou seja, uma mudança que não é de um estado a outro, senão um movimento parcimonioso ou gradual. De origem alquímica, porém não possuindo o sentido restrito de processo laboratorial, senão no sentido original da palavra (labor–oratorium, labora et ora, trabalha e ora) no qual o processo que ocorre na matéria da Obra ocorre do mesmo modo no interior do operador. O sentido iniciático sugere o renascimento, o novo homem. Na alquimia a transmutação possui três estágios: o nigredo, o albedo, e o rubedo, que podem ser associados à purgação, iluminação e unificação na mística tradicional (FAIVRE, 1994, p.22).
5. Neste elemento secundário, Faivre insere a prática da concordância como o estabelecimento de pontos comuns entre diferentes tradições (uma indicação de laicidade do esoterismo). Este método de estudo, o comparativo, surge no séc. XV-XVI (lembrar a importância de Ficino e Pico della Mirandola) e retomando com mais força nos fins do séc. XIX (FAIVRE, idem).
É importante ressaltar o espírito de tolerância que existe no fato de se reunir diferentes tradições sem evidenciar suas particularidades, senão em suas convergências. Porém, o que Faivre pretende mostrar é que a convergência das tradições visa atingir uma gnosis que contenha, de maneira individual ou coletiva, o vislumbre de uma origem única da qual todas as tradições se ramificaram. O que se iniciou com o estudo de doutrinas orientais, o estudo de “religiões comparadas”, deu origem à ideia de uma philosophia perennis (ou Tradição primordial) que se acredita ser a fonte de todas as religiões e concepções esotéricas.
6. O elemento transmissão indica que os conteúdos esotéricos devem ser transmitidos ou comunicados; todavia, essa transmissão não se efetua de qualquer maneira. Isso sugere a emergência de um Iniciador e um sistema “legítimo” e “regular”. Isto se encontra de maneira bastante clara dentro de todos os sistemas iniciáticos ocidentais que podem ser investigados (maçonaria, rosacrucianismo, martinismo, etc.).