A Capitolina 8, agosto 2014 | Seite 14

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Definir de maneira inequívoca quais são os conteúdos nos quais se adequa perfeitamente o termo esoterismo é bastante complexo, pois de maneira alguma se busca definir doutrinalmente o que venha a ser esotérico - nem é o objetivo defender que maneira deve ser a mais adequada para entender o esoterismo, privilegiando uma doutrina em detrimento de outra.

Ao menos podemos seguir a tentativa de Faivre, em sua já consagrada distinção, entre os quatro elementos fundamentais do esoterismo: (1) as correspondências; (2) a natureza viva; (3) imaginação e mediações; e a (4) experiência da transmutação (FAIVRE, 1994, p.17), além de outras duas que seriam elementos “secundários” ou “não-fundamentais”: (5) a prática da concordância e a (6) transmissão.

1. O elemento correspondência indica uma relação de interdependência, “O que está em cima é como o que está embaixo...” , além de diferenciados níveis de existência, os quais estariam ligados ou interligados por meio de correspondências ou analogias (GOODRICK-CLARKE, 2008, p.8). Na literatura esotérica é comum encontrar correspondências entre microcosmos e macrocosmos, e associações entre metais, plantas e planetas, um elemento sendo remetido aos outros, criando assim uma rede praticamente infinita. Estas correspondências são quase sempre ocultas ou pouco reveladas. Este é o campo do mistério, do encoberto, do segredo. Faivre distingue dois tipos de correspondências: (a) as visíveis e as invisíveis. As visíveis são as que estão ligadas ao mundo natural, partes do corpo, plantas, metais, etc., com as regiões invisíveis do mundo celeste; as invisíveis tratam da correspondência entre (b) o cosmos, ou a história, com o texto revelado. Natureza e Escritura corroboram-se mutuamente, uma ajudando no conhecimento da outra (FAIVRE, 1994, p.18).

O estudo das correspondências indicaria uma dimensão na qual o contraditório, paradoxal ou indissociável se desfaria e encontraríamos a solução para os grandes problemas da existência. Deste modo, é demolida toda a estrutura lógico-aristotélica dos princípios de não-contradição, identidade e terceiro excluído. A noção de correspondências sugere que a ordem cósmica segue uma estrutura não linear, diferente da lógica clássica. As relações de analogias e semelhanças podem variar facilmente de níveis ontológicos e/ou lógicos, por meio de redes interligadas ou hieraquias, alterando-se tanto ascendentes, quanto descendentemente – do macro ao micro, do “acima” ao “baixo”, e vice-versa.

2. A correspondência pode ser associada à ideia de uma natureza viva, pois a relação simpática que liga todas as coisas naturais é o elo da magia, onde o controle e emprego das forças estão ligados ao uso das correspondências. A ideia de uma natureza viva é o princípio mesmo da magia, particularmente no Renascimento. Do latim magia e do grego magiké téchne, “a arte dos mágoi” – os antigos magos persas – designava para os gregos um praticante de rituais privados que posteriormente passou a ser marginalizado e proibido (HANEGRAAFF, 2006, p.719). A crença em forças vivas ou animadas é chamada animismo, na qual se admite a ação ou causa às forças naturais animadas (salamandras, ondinas, silfos, gnomos).

Desta maneira podemos compreender o cosmos como um complexo, plural, com entidades hierárquicas continuamente animadas por uma energia viva (GOODRICK-CLARKE, idem). O domínio destas forças naturais costuma-se chamar magia. A prática da magia se faz por parte de instrumentos, amuletos ou talismãs, pelos quais o praticante se comunica com as forças celestes ou terrestres.

De origem oriental, difundiu-se no mundo grego e posteriormente no latino, tornando-se marginal na Idade Média e ressurgindo no Renascimento como parte da filosofia natural. As ideias básicas expostas aqui concordam com praticamente todos os autores da época, como Pico della Mirandola, Reuchlin, Agrippa, Paracelso, Fracastoro, Cardano e Della Porta, sendo a mesma ideia desdobrada pelo último, como também por Campanella (ABBAGNANO, 2007, p.733). A magia retorna ainda no Romantismo Alemão em Novalis, Goethe, etc. No final séc. XIX e metade do XX a magia torna-se então somente uma categoria de interpretação na sociologia e na psicologia. Do séc. XX em diante vemos um retorno da magia associado a movimentos como o neo-paganismo, wicca, new age, e correntes correlatas, como também pode ser incluída nos Novos Movimentos Religiosos (NMR).

Os seis elementos fundamentais do esoterismo em Antoine Faivre.