Livros Para Todos 38
Ana: Há relatos de personalidades com dislexia nos quais apontam a existência de métodos para a memorização de suas leituras, facilitando a compreensão da relação entre os grafemas e os fonemas. Durante sua vida escolar e mesmo atualmente há algum método de estudo e/ou leitura que você tenha desenvolvido e que funciona bem para você?
Eder: Como descobri ‘tarde’, não tive a oportunidade de buscar métodos na minha aprendizagem. Na minha vida acadêmica eu tirava muitas dúvidas com os professores. Explorava-os ao máximo. Grupos de estudos e debates após as reuniões me ajudaram a memorizar as teorias e também a me expressar melhor. E o meu curso também era mais prático que teórico, pelo menos na minha vocação a vida foi legal comigo!
Ana: O professor Fernando C. Capovilla, do Instituto de Psicologia da USP e autor do livro Alfabetização – Método Fônico, afirma que o método fônico, com cantigas de roda e outros recursos lúdicos, pode facilitar a compreensão fonológica de crianças disléxicas durante o processo de alfabetização, aproveitando sua plasticidade neural, o que favorece também o aprendizado das crianças em geral. Em sua opinião, seria interessante que as escolas adotassem medidas inclusivas já nessa etapa da educação infantil?
Eder: Seria interessante e também de uma enorme necessidade. Qualquer método alternativo já é um diferencial. Ir além do trivial é ótimo. A gente presta bem mais atenção quando tem alguma novidade.
Ana: Atualmente você trabalha com audiodescrição e, portanto, precisa ler com frequência roteiros e textos. Qual é a sua relação com a leitura hoje em dia? Há um gênero literário de sua preferência?
Eder: Preciso ler também por causa dos grupos de estudos que participo. Tá certo que mesmo após a leitura, na maioria das vezes, eu não lembro ou não compreendo (risos). Mas debatendo o assunto, encontro uma facilidade incrível de entender e memorizar. Tenho um amigo que me ajuda incansavelmente nisso. A gente passa horas conversando sobre filosofia, história, política, reforma agrária e etc. Sou muito grato a paciência dele, talvez ele nem saiba do quanto tá me ajudando. Foi um método que descobri por acaso. Gêneros literários que eu mais gosto são de psicologia e história da arte. Sai da fase de autoajuda!
Ana: Gostaria de deixar alguma mensagem sobre a importância da inclusão e da literatura acessível como recurso para o acesso à cultura?
Eder: A inclusão da leitura e a motivação, principalmente. Inserir também música, danças folclóricas, arte, esportes diversos, filosofia, política. Infelizmente a educação tá do jeito que o governo gosta, formando pessoas sem nenhum senso crítico. Tudo isso eu tive que buscar fora da escola. Imagine aqueles que não têm fácil acesso a tudo isso? Talento não tem lugar pra nascer, devemos ter muita pedra bruta sem lapidar por aí.