u queria transformar todas as histórias que conheço em literatura de cordel para que o mundo ficasse um pouco mais elegante. A palavra que me vem à mente quando penso em literatura de cordel é essa: elegância.
Falar em elegância, portanto, é falar do autor Leandro Gomes de Barros, que transformou uma história de assassinato em cordel. Neste caso, vou falar de uma de suas obras mais conhecidas, O Cachorro dos Mortos.
“Os nossos antepassados
Eram muito prevenidos,
Diziam: - Matos têm olhos
E paredes têm ouvidos.
Os crimes são descobertos,
Por mais que sejam escondidos.”
O livro inicia-se assim e conta a história de um crime chocante que aconteceu na Bahia, em que três irmãos são assassinados, o que traz, em seguida, por choque e por loucura, a morte da mãe e do pai dos irmãos. A única testemunha do crime é o cão da família, que leva o nome de Calar. Pelo nome do cachorro, a obra já merece respeito, mas, como nomes de personagens não salvam histórias, todo o resto deve valer muito a pena. E, nesse caso, vale.
Sendo uma história tão brutal, como é possível mostrá-la a um adolescente, por exemplo? A história é triste, mas mostra pontos tão reais que o leitor se prende a ela; seja pelo mistério envolvendo mortes, seja pela cumplicidade de Calar com relação ao seu dono.
“Calar, o velho cachorro
Que aquele espetáculo via
Soltando uivos enormes
Que muito longe se ouvia
Rosnava, fitava os olhos
Debalde a corda mordia”
Calar não é só um cachorro. Calar é a história toda, é o olho do leitor, aquele que tudo sabe, porém espera pela hora em que pode dizer “eu já sabia”. A fina ironia do nome demonstra todo o cuidado e preparo de escrita de uma literatura de cordel. Achar que, pela linguagem simples, o conteúdo é fraco é desconhecer a riqueza que há em cada verso do livro.
Já que não posso contar o final para não estragar a surpresa, o autor do livro chama o leitor a pensar e a se envolver em tal realidade. Não é exagero dizer que a história poderia ser contada através da literatura fantástica, através de um romance. Mas são nos versos que ela se encarrega de deixar sua marca, de fazer com que a fantasia não deixe de estar presente, mesmo que seja caso de morte de uma família inteira.
A delicadeza do autor em só chamar o leitor na última estrofe demonstra todo seu domínio em prendê-lo para que, no final, não seja necessário mais perguntas acerca da veracidade: a história aconteceu e tem nome, O cachorro dos mortos: “Leitor não levantei falso / Escrevi o que se deu / Acreditem que este fato / Na Bahia ac
E
O Cachorro dos Mortos
Mônica Albiero Costa
Resenhando Jr. 31
BARROS, Leandro Gomes de. "O Cachorro dos Mortos'. Luzeiro.