Escrituras 10
As pesquisas sobre leitura no Brasil vêem se desenvolvendo consideravelmente nos
últimos anos. Muitos são os enfoques dados ao estudo do mercado editorial brasileiro, tais
como o interesse comercial das editoras, os diversos tipos de gêneros literários, bem como os
novos que surgem, o crescimento desse setor, a facilidade – ou não – do acesso do público
leitor às obras, entre outros. O que se pretende aqui, no entanto, é fazer um estudo histórico do leitor, mais especifi camente o leitor brasileiro de literatura infanto-juvenil, comparando aquele da década de 1980 com o dos dias atuais. Em outras palavras, procura-se, com este artigo, traçar um perfi l desses leitores de ambos os períodos, tendo em mente as mudanças que ocorreram na preferência desse público, e tendo como objetivo maior, ainda, estabelece as preferências atuais do público infanto-juvenil no que se refere à leitura.
Há, atualmente, diversos autores que se preocupam cm a literatura infanto-juvenil e
dedicam suas obras a esse gênero literário, tais como Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Leonardo Arroyo, João Luis C. T. Ceccantini, Ligia Cademartori Magalhães, entre vários outros. Para essa revisão histórica, foram selecionadas obras dos quatro primeiros autores citados, conforme mostram as referências bibliográfi cas, ao fi nal do artigo.
Segundo Ceccantini (2004: 20), o não-incentivo à pesquisa em literatura infanto-juvenil deve-se principalmente à “volatilidade do objeto em causa, resistente ao enquadramento em defi nições precisas e à clara delimitação e defi nição, situando-se numa espécie de limbo acadêmico, que o transforma, por vezes, em propriedade de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém.” Ainda, no pensamento de Hunt:
Trata-se de um tipo de literatura cujas fronteiras são muito nebulosas; não pode ser defi nido por características textuais, seja de estilo, seja de conteúdo, e seu público principal, a “criança-leitora”, é igualmente escorregadio. Como um outsider do universo acadêmico, não se encaixa nitidamente em nenhuma
das disciplinas estabelecidas e tem sido certamente esnobado por alguma delas. (Ceccantini 1990: 1).
Em outras palavras, a falta de defi nição da literatura infanto-juvenil, decorrente da diversidade de estilos e de conteúdos que a compõem, bem como seu tipo de público, “escorregadio”, segundo o autor, é o que contribui para que esse gênero literário de grande
importância seja diminuído, muitas vezes, pelo universo acadêmico.
Antes de traçar o perfi l do leitor brasileiro de literatura infanto-juvenil na década de 1980 e do período entre 1994 a 2004, e estabelecer, posteriormente, a comparação entre ambos, torna-se necessário esboçar um histórico sobre o período considerado como o início da formação de tal gênero literário. Esse processo de formação contou, também, com o livro didático, sobre o qual se discorrerá mais adiante.
Sendo assim, é impossível falar sobre literatura infanto-juvenil e não inserir, neste quadro, Monteiro Lobato. Preocupado com a literatura infantil, Monteiro Lobato publicou, em 1921, Narizinho Arrebitado – segundo livro de leitura para uso das escolas primárias. Embora estivesse estreando na literatura escolar com Narizinho Arrebitado, Monteiro Lobato já trazia em sua primeira obra as diretrizes de uma literatura infanto-juvenil:
o apelo à imaginação em harmonia com o complexo ecológico nacional; a movimentação dos diálogos, a utilização ampla , o enredo, a linguagem visual e concreta, a graça na expressão – toda uma soma de valores temáticos e lingüísticos que renovava inteiramente o conceito de literatura infantil no Brasil, ainda preso a certos cânones pedagógicos decorrentes da enorme fase da literatura escolar. (Arroyo 1968: 198)
Pode-se dizer, com isso, que Monteiro Lobato foi o pioneiro a pensar na literatura infantil
enquanto algo que deveria ser estimulado na criança, de modo que ela adquirisse o hábito e o
prazer pela leitura, não mais se restringindo à obrigação pedagógica dos livros didáticos.
Dez anos depois de sua primeira publicação para este tipo de público, Monteiro