11 A Capitolina
(POLIDORI, 1997: xvi). A efervescência da publicação de livros aumentou o traba lho dos críticos da época. Sabemos que a ideia do ofício de um crítico literário sofreu transformações ao longo dos tempos. No século 18, podemos perceber que os autores já consideravam o julgamento dos críticos e até dialogavam com eles em seus prefácios e introduções:
A escolha de Lewis de incluir uma paródia na edição revisada de The Monk sugere sua consciência sobre a posição inconsistente de muitos de seus detratores que, assim como Coleridge, admiravam sua poesia e ao mesmo tempo insistiam que o romance todo de- veria ser resultado das perversões de seu autor (WILSON, 1997).
[...] então sinto-me bastante interessado em vossa decisão sobre os méritos deste traba- lho. [...] Prossigam, incríveis e generosos árbitros do gosto nacional, em suas carreiras gloriosas e esplêndidas, direcionem sua raiva sob aqueles que degradam a literatura com suas discussões e vãs filosofias (BECKFORD, 1993, pp. 157-9).
A questão da autoria, percebe-se, também aparece como tema ainda em discus- são. Ao abrirmos um romance gótico do século 18, é quase certo que iremos encontrar uma quantidade elevada de citações e epígrafes. Isso é um fenômeno que não cabe ana- lisar aqui, mas seria muito interessante lidar especificamente com a inter textualidade nessas obras. O que cabe trazer à tona agora é que a paródia e o pastiche acabaram levantando uma discussão entre autores góti cos e críticos sobre a autoria. O cuidado com tal tema é res saltado nessa análise sobre uma coletânea organizada por Lewis:
A autoria na editoração de Tales of Wonder, uma coletânea de baladas, expõe sua rela- ção com a ideologia do gênio Romântico. O cuidado com o qual atribui cada poema da obra sugere sua percepção aguçada da importância crescente da originalidade e, por- tanto, do ato de nomear como meio para assegurar a posse autoral dos textos literários em circulação (WILSON, 1997).
E essas discussões não ocorreram apenas em torno da autoria dos fragmentos, mas também em torno da conduta dos autores. É muito interessante observar que Mat- thew Lewis teve sua vida pessoal confundida com a vida do monge de seu romance, a ponto de ser conhecido como e chamado de “Monk” Lewis
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Lewis escreveu nos primórdios do Romantismo, quando as ideias de auto-expressão na arte e a conexão tênue entre a vida do artista e seu trabalho eram novas e excitantes. Para nós, pode parecer ingênuo que ele tenha ficado satisfeito em ser identificado com sua ficção e seu herói, mas naquela época, tal identificação oferecia uma nova forma de ler e novas maneiras de ver o mundo e o lugar do indivíduo nele, mesmo que fosse um lugar perturbador (WILSON, 1997).
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Também é interessante observar as características de um gênero ainda prema- turo sendo elaboradas nas palavras dos próprios autores góticos da época. A inovação do gótico literário fica evidente, por exemplo, na introdução de The Castle of Otranto. Há o claro embate entre manter as estratégias e estruturas que evocam o imaginário gótico (as imagens sublimes, os momentos de horror, os personagens ambíguos) ou justificá-las ao leitor, torná-las mais digeríveis:
Qualquer que sejam suas opiniões, ou qualquer que sejam os efeitos causados, esta obra só pode ser apresentada ao público como um meio de entretenimento. Mesmo assim, um pedido de desculpas faz-se necessário. Milagres, visões, necromancia, sonhos, e ou- tros eventos sobrenaturais foram abolidos dos romances hoje em dia. Não era esse o ca- so quando o autor escreveu, e muito menos quando a história em si aconteceu. [...] Se esse ar miraculoso for perdoado, o leitor não encontrará nada mais que seja indigno de sua atenção. Permitam a possibilidade dos fatos, e todos os atores se comportarão como pessoas se comportariam nas devidas situações (WALPOLE, 1996).