7 A Capitolina
O que salva o herói é seu grau de amadurecimento, e este é alcançado sempre fora da casa paterna. A mensagem oculta é a de que precisamos de nossos pais, mas para crescer, temos de nos libertar da dependência deles. Bettelheim (1980, p.16) destaca que
“Para dominar os problemas psicológicos do crescimento – superar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de autovalorização, e um sentido de obrigação moral – a criança necessita entender o que está se passando dentro de seu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados – ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes, o que capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ainda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens á criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.”
Condiz com o que comenta a professora em sua entrevista:
“Através dos contos de fadas, podemos levar as crianças a compreender que na vida real, devemos estar preparados (as) para enfrentar as coisas difíceis com coragem e otimismo para a conquista da felicidade”.
O maravilhoso sempre foi, e continua sendo, um dos elementos mais importantes na
literatura destinada as crianças. Através do prazer ou das emoções que as estórias lhes proporcionam, o simbolismo que, está implícito nas tramas e personagens, vai agir em seu inconsciente, atuando pouco a pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida.
A psicanálise afirma que os significados simbólicos dos contos maravilhosos estão ligados aos eternos dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento emocional. É durante essa fase que surge a necessidade da criança em defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos.
Lembra a psicanálise que a criança é levada a se identificar com o herói bom e belo, não devido à sua bondade ou beleza, mas por sentir nele a própria personificação de seus problemas infantis: seu inconsciente desejo de bondade e beleza e, principalmente, sua necessidade de segurança e proteção. Pode assim superar o medo que a inibe e enfrentar os perigos e ameaças que sente à sua volta, podendo alcançar gradativamente o equilíbrio adulto.
Se o aspecto principal na definição do conto popular, enquanto gênero literário, é a organização do motivo e das motivações dos personagens, no conto maravilhoso é necessário acrescentar um outro elemento: o encantamento provocado pela ação de um ser sobrenatural. Num momento de grande conflito, um ser sobrenatural intervém no destino do herói e modifica totalmente sua vida. É isto que define o conto de fadas,
tornando-o distinto das demais narrativas literárias.
“Herói é o personagem que vive grandes aventuras e consegue vencer todos os problemas que surgem à sua volta. Por isso ele é considerando o personagem principal, cujas ações, pensamentos e sentimentos acompanhamos com maior interesse. O herói é também chamado protagonista da história. Nem sempre o herói é um personagem com qualidades positivas. Existem heróis que são atrapalhados, malandros e vivem grandes situações de embaraço, mas continuam sendo protagonistas. Estes são conhecidos como anti-heróis”. (MACHADO, 1994, p. 45)
Nos contos de fadas, pode-se encontrar o modelo básico de qualquer narrativa literária, em toda narrativa literária existem episódios, ou seja, situações de equilíbrio e
desequilíbrio, que se modificam, provocando a passagem de uma situação a outra. É
nessa cadeia de episódios que se situam os conflitos e as soluções aos problemas que
tanto nos prendem a atenção. A diferença é que, nos contos de fadas, a transformação
é provocada pela intervenção uma ação mágica. Assim, os seres mágicos são tão
importantes para o desenvolvimento da história quanto para o comportamento do herói.
Logo, todos os contos de fadas apresentam histórias de príncipes e princesas – heróis
– que vivem situações terríveis criadas por seres malévolos – as bruxas - , mas,
felizmente, contam com os seres mágicos: fadas, magos, anões. Por isso, os conflitos
são provados por uma intenção maldosa contra uma pessoa de bem e só se resolve
pelo encantamento. O herói sofre a perseguição do mal – a bruxa -, o que faz aumentar
o conflito até o final, quando a virtude triunfa e o ser malévolo é impiedosamente
castigado. Assim, tudo termina com final feliz.
O Heroi em desenvolvimento