A Capitolina 3, março 2014 | Page 18

Aquele ambiente tinha o poder de intimidá-la e deslumbrá-la ao mesmo tempo. Sentimentos que se confundiam, talvez fruto de sua pouca idade.

Ali não havia olhares enviesados, tampouco necessidade de equilibrar-se na corda bamba do traquejo social. Podia-se apenas ser quem se era, sem expectativas de ambos os lados.

Tudo lhe apetecia. Talvez algumas coisas com uma intensidade maior, e era como se sentisse em casa, no seu quarto, diante de seus mais íntimos objetos.

Ironicamente, nunca havia tocado em qualquer livro daquele imenso labirinto que se conformava chamar-se biblioteca. Passeava por entre as prateleiras, como que tentando catalogar mentalmente os nomes nas lombadas e os gêneros aos quais pertenciam.

O cheiro singular das páginas envelhecidas misturadas a poeira finamente acumulada sobre as publicações, a meia-luz que dava um tom denso e grave aos livros enfileirados nas enormes estantes, o característico silêncio sussurrado da sala de leitura. Por um tempo, isso lhe bastou.

Sentada em sua mesinha para duas cadeiras instalada logo ao lado da seção de Ciências Sociais, a ideia tomou-lhe de assalto. Remexeu-se na cadeira, mas sem a intenção de se levantar. Precisava pensar, planejar. Olhou para a bibliotecária. Poderia pedir-lhe ajuda, mas, ponderando, dessa forma estaria abrindo mão de sua liberdade de escolha. Deixou passar.

Já não lhe bastavam os livros usados em aula, isso era fato. Queria novos horizontes. Não os pré-concebidos, daqueles que se espera de alguém a tarefa de, informado sobre os gostos e temas de interesse, apontar uma lista de possibilidades.

Encontrou a si mesma em uma folhinha de uma caderneta de anotações, onde elencou, entre rabiscos e palavras, assuntos que realmente lhe importavam. Com o plano de voo em mãos, retornou às prateleiras com atenção redobrada, como se estivesse percorrendo-as pela primeira vez.

Escolheu, enfim, o livro, que aqui não importa saber sobre o que se tratava nem o que à nossa personagem significaria finda a leitura.

De volta à mesinha, o livro à sua frente ainda fechado, trazia uma última indagação antes de ser, enfim, decifrado. Pensou em inúmeras formas, sem que nem ao menos uma lhe parecesse minimamente satisfatória. Ao virar as páginas percebeu, então, que não havia um jeito específico. Teria de encontrar seu próprio caminho para acompanhar o autor naquela jornada.

Rodrigo Zafra Toffolo

A Busca

mini conto

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mas, ponderando, dessa forma estaria abrindo mão de sua liberdade de escolha. Deixou passar.

Já não lhe bastavam os livros usados em aula, isso era fato. Queria novos horizontes. Não os pré-concebidos, daqueles que se espera de alguém a tarefa de, informado sobre os gostos e temas de interesse, apontar uma lista de possibilidades.

Encontrou a si mesma em uma folhinha de uma caderneta de anotações, onde elencou, entre rabiscos e palavras, assuntos que realmente lhe importavam. Com o plano de voo em mãos, retornou às prateleiras com atenção redobrada, como se estivesse percorrendo-as pela primeira vez.

Escolheu, enfim, o livro, que aqui não importa saber sobre o que se tratava nem o que à nossa personagem significaria finda a leitura.

De volta à mesinha, o livro à sua frente ainda fechado, trazia uma última indagação antes de ser, enfim, decifrado. Pensou em inúmeras formas, sem que nem ao menos uma lhe parecesse minimamente satisfatória. Ao virar as páginas percebeu, então, que não havia um jeito específico. Teria de encontrar seu próprio caminho para acompanhar o autor naquela jornada.