ormalmente, eu escreveria uma introdução aqui - algo que desse ao leitor desta resenha alguma noção introdutória do que está por vir ao adentrar a dimensão de Dragões de Éter. Entretanto, eu percebi que qualquer introdução estaria aquém do que é expresso por Dragões de Éter. Desta forma, minha introdução simplesmente é “este livro é um dos melhores que já li em minha vida”.
Dragões de Éter conta uma história que, no fundo, são várias ao mesmo tempo - entremeando ligações entre personagens, referências passadas, futuras e externas e é isso o que torna o livro tangível e os personagens reais. Mais do que meros leitores, somos participantes desta realidade, conduzidos com maestria pelas vielas e avenidas da narrativa de Raphael Draccon. A escrita de Draccon não poderia ser melhor descrita do que pelo adjetivo “esquizofrênica”, pois seus capítulos variam rapidamente da comédia ao drama, da alegria à tristeza, da luta à perda em menos de duas páginas, equivalente a um pinball literário. Draccon não perde tempo descrevendo paisagens que se tornariam irrelevantes no final do capítulo - um erro que muitos escritores de fantasia cometem ao tentarem imitar o estilo único de Tolkien - preferindo, ao invés disso, entrar diretamente no local em que a ação está.
Outro fato notável desta coleção é a profundidade psicológica dos personagens, atualmente relegada em face de personagens “água-com-açúcar” de best-sellers massificados, já que existem motivos ulteriores para toda e qualquer ação praticada no livro. Não se pode interpretar, por exemplo, o relacionamento entre personagens sem verificar o contexto psicológico e social a que eles estão imersos. Não se pode pensar na criação de Axel e Anísio sem interpretar os motivos pelos quais eles foram criados desta maneira por Primo, e muito menos entender suas escolhas ao longo da história sem esta derivação.
A intuição inicial de um leitor desavisado pode ser de que o trabalho de Draccon não supere a dimensão da óbvia releitura, por se tratar de uma trilogia escrita com base em diversos personagens pré-existentes inominados do imaginário popular, tais como Chapeuzinho Vermelho, o Caçador e a Bruxa da Casa de Doces. No entanto, nada estaria mais longe da verdade. O autor dá nova roupagem e tece uma trama completamente diferente das histórias originais, ultrapassando o universo da releitura, ao criar algo completamente novo com base em ‘blocos-de-história’ pré-estabelecidos. Raphael é um criador de mundos, um manipulador de histórias, um escultor de palavras.
Em suma, Dragões de Éter é um livro que deve ser lido - se possível, agora mesmo.