Entrevista | Emanuel Bomfim | revista @ cidadenova . org . br
Por uma cultura do diálogo
os jornalistas , donos de jornal , editoras . Fui tendo umas aulas do que funcionava ou não . Ao mesmo tempo , outro caso acidental me ajudou bastante . Foi quando saí de Mogi das Cruzes , com 18 anos , para tentar a sorte em São Paulo . Fui mostrar meus desenhos na Folha de S . Paulo e não foram aceitos . Na ocasião , um jornalista assistiu ao meu fracasso de candidato a desenhista e sugeriu que eu entrasse na Folha para fazer qualquer coisa . Lá dentro , os colegas depois poderiam ajudar com meu projeto . Entrei como revisor de textos . Em seguida , houve uma vaga de repórter policial . Entrei e gostei da brincadeira . Afinal de contas , é como se fosse um super-herói : vai fazer investigação , acompanhar a polícia ... Nem ligava para o perigo , estava naquela idade que nada de mal pode ser feito para a gente . Estava invulnerável , tanto que , quando fui aceito como repórter , desci para o Largo do Arouche , perto do prédio Folha , comprei uma capa e um chapéu igual ao de detetive americano . Mas tinha uma coisa na própria redação que me chamou a atenção e foi também muito importante para minha carreira de desenhista em quadrinhos . A Folha recebia dos sindicatos americanos tudo o que eles inventavam nos EUA para vender história em quadrinhos para os jornais . Eu estudava esse material , como eles faziam para vender , fazer propaganda , marketing , quanto cobravam ... Aquilo foi uma aula pra mim , para eu imaginar como venderia as minhas tirinhas futuras . Nunca duvidei de que não conseguiria .
Chegou a representar uma crise para a Turma da Mônica quando a internet chegou e popularizou ?
Não , achei ótima , pois era mais uma plataforma para conversar com meu público . Adoro ter meu cantinho no Instagram . Sou eu quem converso com os leitores ali .
Como é preservar a linha editorial da Turma da Mônica ?
Tenho muito cuidado em manter o estilo de comunicação que desenvolvi e principalmente o lado humano dos personagens . Veja : a Turma da Mônica brinca na rua normalmente , não tem carro atropelando ninguém . Estão no campinho , que todo mundo sonha em ter . O Chico Bento , todo mundo gosta de onde ele mora . O negócio é manter o que fizemos até hoje , nos últimos 60 anos , e deu certo . Eu já experimentei esse tipo de contato com os leitores nos países mais distantes , diferentes , com o mesmo resultado . Na China , por exemplo . A criançada pega a Turma da Mônica em mandarim e não larga mais o gibi . Indonésia publicou a Turma da Mônica durante 18 anos . O nosso material tem uma universalidade que acidentalmente encontrei e estamos mantendo .
Como você gerencia e pensa as mudanças estéticas na Turma da Mônica ?
Eu não aprovo não . Eu engulo para ver o que vai dar ( risos ).
Mas eles ficaram mais expressivos ultimamente , não ?
Isso talvez tenha sido influência do mangá . Estava um pouquinho demais e dei uma segurada .
A pandemia mexeu muito com você e a empresa ?
Esvaziou a empresa fisicamente e o pessoal foi todo trabalhar em casa . Só que no caso de quadrinhos , nossos roteiristas e desenhistas já estão acostumados a desenhar em casa uma boa parte do tempo , porque eles ganham por produção . Então , se eles dão uma puxadinha em casa e depois do horário comum de trabalho , eles ganham mais . Consequentemente , agora na quarentena a nossa produção aumentou e melhorou em qualidade .
Em relação ao Brasil , você se preocupa com a situação política e econômica do país ?
Qualquer pessoa que lê jornal e é bem informado fica um pouco cismado : e agora , como vamos fazer ? Como ninguém consegue adivinhar o futuro , vamos ter que ser um pouquinho otimistas e achar que mais uma vez vamos sair bem dessa história toda . Logicamente você tem que criar condições para escapar de situações muito difíceis . Escapar implica alterar profundamente sua vida , sua produção , sua atividade , seu mercado , onde estará o seu mercado . Temos que pensar em tudo isso . E temos que , mais uma vez , nos adaptar .
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8 | Cidade Nova | Outubro 2020