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Outubro 2020 | Cidade Nova | 7
Capa da primeira revista da Turma da Mônica publicada em 1970
Divulgação vam : “ Quem desenha , só você ?”. Infelizmente eu tinha que mentir dizendo que tinha uma equipe me ajudando . Mas mentia porque sabia que aguentaria . Confiava muito em mim . Três anos depois que comecei com as tiras , já estava em 400 jornais em todo o Brasil .
E a criança , você pensava nela como leitora ?
Não . Fui tapeado pela minha ignorância . Acidentalmente comecei a fazer minhas histórias com personagens infantis , porque não sabia fazer história com adulto . Não tinha histórico , não tinha prática . Mas contar história de criança , eu sabia . Tinha filhos pequenos , tinha já as três meninas : a Mariângela , a Mônica e a Magali . Eu jogava nas tirinhas os personagens infantis , e as crianças , filhas dos assinantes dos jornais , pegavam o jornal do pai para ler minhas histórias . Percebi que elas estavam agradando primeiro às crianças e depois aos adultos . Comecei a criar mais assim a partir de então . Cascão era um menino de Mogi , Cebola era um menino também de lá . Jogavam bola com meu irmão em campo de terra , de barro . Cascão saía enlameado e não ia tomar banho porque não tinha água encanada na casa dele . Tinha que tirar água do poço .
Primeira tira publicada em 1959 com Franjinha e Bidu na Folha da Manhã
A origem do personagem foi , então , um problema sanitário ?
Sim , e um problema que perdura até hoje , infelizmente . Fui aprendendo com a prática , com os resultados que começavam a chegar dos leitores . Percebi que estava escrevendo para criança , criei mais personagens . Eram tantos que houve um tempo , ainda quando estava sozinho , que eu não tinha tempo de desenhar alguns elementos , alguns detalhes dos personagens . Eu optei , por exemplo , em não desenhar sapato . É o que explica a Mônica descalça , a Magali descalça , o Xaveco descalço ...
Era uma questão prática .
Ainda bem . Como tinha criado o Cebolinha e o Franjinha antes , quando tinha mais tempo para desenhar , eles ficaram com sapato . Os personagens dos quais eu não tinha tempo de desenhar o sapato , ficaram sem até hoje . Personagem de história em quadrinhos não muda característica , não muda roupa , não muda nada .
Quando você sabe que uma história é boa ?
Quando você está criando , tem que colocar no personagem caraterísticas novas , diferentes , interessantes , até ousadas . Aí você adquire uma noção . Não imaginava , porém , que alguns personagens iriam ganhar tanto espaço , como a Mônica , que entrou como um personagem secundário . O Cebolinha está até hoje querendo a história de volta , querendo ser o “ dono da lua ”.
A maior parte dos personagens tem bases reais , da observação do seu entorno , com pessoas com quem convive . Não há exemplos totalmente ficcionais ?
Tem sim , como o Louco . Não conheço ninguém assim . Mas ele foi baseado fisicamente em um desenhista lá do estúdio , o Sidnei Lozano . Aliás , um detalhe sobre ele : ele nunca faltou ao trabalho , nunca ficou doente e é o cara que mais produz história em quadrinhos do estúdio .
O quanto você cria e desenha hoje ? Ou a vida de empresário te afastou da prancheta ?
O volume de atividades que tenho não me permite ter mais tempo para desenhar como gostaria . Tive que optar por acompanhar o processo , olhar , ver , passar no estúdio , bater um papo com pessoal e , principalmente , acompanhar os negócios , que nascem da história em quadrinhos . Afinal , estamos trabalhando com muitas editoras , mesmo em meio à crise . E estamos entrando mais firme na área internacional também . Abri uma empresa no Japão para fazer a mesma coisa que faço aqui . Quase todo dia tem reunião com eles . A minha aposta hoje é o Japão .
Como foi para você conciliar essas duas personas ao longo da vida : o Mauricio desenhista e o Mauricio empreendedor ?
Tive um bom treinamento quando saí por aí para vender meu peixe , as historinhas . Conversava com c

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