1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 53

aguçados no decorrer do segundo semestre de 1963 e primeiros meses de 1964 – criaram um clima de confrontação irreversível e levaram ao enfraquecimento ou mesmo isolamento do governo. Jango, acossado pela direita e pela esquerda, viveria o tempo todo na “corda bamba”, sob dois fogos. De um lado, setores dominantes, no mais das vezes conservadores e de direita, aglutinados num complexo de organizações – composto, entre outros, pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), Ação Democrática Parlamentar (ADP), Escola Superior de Guerra (ESG), sindicatos e federações de trabalhadores e patronais, Igreja Católica (setores majoritários), imprensa, embaixada e outras representações norte-americanas – bradavam acusações de incompetência, corrupção, desordem, subversão, anarquia, populismo, exasperando a histeria anticomunista, enraizada no imaginário militar, desde 1935, e nas camadas médias e superiores, radicalizada nos anos sessenta pela Guerra Fria. Procuravam bloquear qualquer tipo de reforma e/ou de mudança socioeconômica que afetasse seus interesses e negócios, além de empenharem-se em obstaculizar a ampliação dos direitos de cidadania. Passaram a usar todos os meios, lícitos ou ilícitos, para desestabilizar o governo. A mobilização e a ação política da oposição conservadora foram, em muito, facilitada pela eleição de Carlos Lacerda (na Guanabara) e Magalhães Pinto (em Minas Gerais) em 1960; e de Adhemar de Barros (em São Paulo), Ildo Meneghetti (no Rio Grande do Sul) e de Lomanto Jr. (na Bahia) em 1962, para governadores; os três primeiros desempenhariam papel ativo nas articulações golpistas e desestabilizadoras contra o governo Goulart. Já a esquerda, constituída de grupos e vertentes bastante heterogêneas – “Grupo Compacto” do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Comunista Brasileiro (PCB), Frente de Mobilização Popular (FMP), Frente Parlamentar Nacionalista (FPN), Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Ligas Camponesas etc. – manifesta ou oficialmente situacionista, em muitas ocasiões e episódios, comportouCrise de poder e espoliação da democracia 51