1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 54

-se como oposição; é o caso de seguidores de Leonel Brizola, como, por exemplo, setores da baixa oficialidade militar (cabos e sargentos). Esforçou-se, insistentemente, em empurrar o governo para a tomada de medidas e posições cada vez mais radicais. Defendeu as reformas de base, “na lei ou na marra” (caso da reforma agrária), acompanhadas de medidas de caráter nacionalista e estatizante. As reformas – dados os obstáculos institucionais – poderiam ter uma solução extralegal: realizá-las à revelia do Congresso, por um governo nacionalista, forte e resoluto. Diante dos impasses legais para a aprovação das reformas pelo Congresso – caracterizado como conservador e reacionário – começou-se a gestar na esquerda (comunistas, trabalhistas e outros) a hipótese de realizá-las via Executivo com poderes excepcionais, como único meio possível. Brizola (1964, p. 8), em discurso no comício de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, propôs mesmo a dissolução do Congresso e a convocação de um plebiscito, a fim de instalar uma Assembleia Constituinte para mudar a Constituição e “(...) permitir a formação de um Congresso popular, onde se encontrem trabalhadores, camponeses, sargentos e oficiais nacionalistas.” Fazer ou impor as “reformas de base” por esses meios, apesar e “por cima” das instituições e das normas constitucionais, requereria um Poder Executivo com forças suficientes para tal empreendimento. O grande triunfo seria o “dispositivo militar” de Jango, capaz não só de barrar qualquer reação ou tentativa golpista da direita, mas desencadear o processo de reformas por meio de uma ação enérgica, com apoio das massas e respaldado pelo “V Exército” (CGT, PUA, Contag, FMP, UNE e outros). Combatido ferozmente pela direita e pressionado severamente pela esquerda, o governo foi sendo desgastado, caminhando inexoravelmente para o isolamento, o que engendrou uma crise difícil de ser equacionada. E, para agravar o quadro, além da escalada crescente de greves nos serviços públicos, um movimento de insubordinação promovido por setores do baixo escalão das Forças Armadas (revolta dos sargentos em Brasília, em setembro de 1963; revolta dos marinheiros no Rio de Janeiro, em março de 1964), provocou a reação da 52 1964 – As armas da política e a ilusão armada