1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 246

A luta armada no Brasil, no período 1967-1973, tornou-se um capítulo terrível da vida brasileira. Em 1969, o que pareceu seu auge era algo fantasmal. E 1970 materializou o fenecimento do sonho, a consumação do massacre, a derrota anunciada. Jules Régis Debray (1940), a partir daqui citado como Régis Debray, a definiu como um leninismo apressado. Ideário panfletário A carência de um programa revolucionário definido, como baliza, foi a falha de todas as organizações, não só da ALN. E fez com que suas publicações e outros tipos de perorações desafiantes do Estado militar-nacional sofressem de um panfletarismo crônico, uma fala desconexa diante da circunstância social e política do país. Pouco eficientes como propaganda de atos que beneficiariam as massas, eram apenas panfletos, nada mais que isso. Aspiravam ser didáticos, para uma leitura absorvível e imediata do escrito. Mas eram tão somente panfletos genéricos, ininteligíveis para os setores sociais aos quais eram destinados. Esse panfletarismo, como veículo preferencial para a transmissão da imaginação revolucionária e suas bandeiras, cristalizou-se numa pregação desconectada do mundo político-social concreto. Em seu discurso fantástico (no sentido de ser uma rejeição inconsciente do real), com suas digressões metafísicas e autorreflexões vazias, o sentido das palavras não traduzia os propósitos enunciados. Não exprimia de forma inteligível um utopismo de igualdade, justiça, fraternidade e liberdade. Expressava, para seus destinatários, a distopia de uma sociedade igualitária. A surpresa revolucionária ante a apatia com que os cidadãos comuns acolhiam não só a falação, mas a sua prática, produziu desânimo generalizado: o futuro não era pré-revolucionário, o hodierno muito menos, tais grupos não eram atores centrais, mas antes uma ficção social e política. A sociedade socialista oferecida como um espaço utópico, na qual se atenderiam as vontades do homem brasileiro comum (e não só dos explorados) foi desconstruída pela contrarrevolução, 244 1964 – As armas da política e a ilusão armada