1964 As armas da política e a ilusão armada

cia primeiro a ruptura com o arcaico para, somente então, a classe operária afirmar sua hegemonia no âmbito de um novo bloco histórico e realizar o trânsito ao socialismo. Com isso, empenhado centralmente no avanço da modernização, o PCB aprofundava seu apoio à burguesia no poder, radicava seu foco estratégico no interior do Estado e, sem distinguir-se das demais forças que compunham a frente nacionalista, deixava de disputar com elas a hegemonia do movimento. Como afirma Werneck Vianna, a ocidentalização política do PCB, naquele momento, estava a serviço da viabilização da questão nacional, da realização do Oriente, ainda que subtraído do seu portador convencional: o bloco operário-camponês.9 O golpe de 1964 foi uma dura derrota impingida à frente nacionalista. Representou a opção da burguesia brasileira em completar o processo de modernização do país por via reacionária, confirmando a natureza autocrática da República e deslocando a tese do PCB quanto à necessidade de uma preliminar eliminação dos entraves histórico-estruturais ao desenvolvimento das forças produtivas. De modo que, logo em seguida, quando teve início o ciclo de expansão do capitalismo brasileiro, tornou-se evidente que o que poderia ser a obra “revolucionária” da burguesia já ia longe, tributária de elites conservadoras que, com o golpe militar, apenas atualizavam o tipo de modernização inaugurado com o Estado Novo. Em outras palavras, em 1964, a crença do PCB no capitalismo de Estado como “dique” ao domínio imperialista foi desmontada. Erodido o foco partidário na questão nacional, pode-se dizer que, em seu VI Congresso (1967), excetuada a dissidência que optará pela luta armada, o partido caminhará no sentido de valorizar as instituições da democracia em si mesmas, atribuindo-lhes importância central para o avanço do movimento operário e popular. Concedia-se, então, primazia à luta política pela restauração das liberdades democráticas, articulando-se uma frente contra o regime ainda mais ampla do que a coalizão nacionalista do período precedente. Em 1968, removidas as últimas expectativas da dire9 WERNECK VIANNA, Luiz, 1989. 190 1964 – As armas da política e a ilusão armada

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