1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 14

preço muito alto na perspectiva de muitas das lideranças de esquerda do governo. Em quarto lugar, as alternativas de resistência ao governo militar. No campo da esquerda, houve dois diagnósticos antagônicos a respeito das causas da derrota e cada um deles resultou na definição de uma estratégia e de táticas de luta diferentes. Para um grupo, que incluía as dissidências do PCB, o PCdoB, e organizações outras, o governo João Goulart teria pecado por excesso de prudência e moderação. A conjuntura estaria madura para radicalizar a agenda, abandonar as ilusões do reformismo burguês e decidir a parada no terreno das armas. Em razão da indecisão do governo, no entanto, quando a hora decisiva chegou, apenas um dos exércitos saiu a campo. Falharam os militares nacionalistas, os grupos dos onze, os camponeses de Francisco Julião. Para esse grupo, o apoio conseguido pelas reformas de base junto à população era mais do que suficiente. A derrota, portanto, não havia sido política, mas militar. Consequentemente, a estratégia da resistência consistia em conseguir armas e soldados para travar a batalha que não houve em 1964. Para o grupo que permaneceu na direção do PCB, no entanto, a derrota sofrida havia sido política. O sucesso das marchas organizadas pela direita nos dias anteriores ao golpe era prova da insuficiência do apoio popular para executar a agenda das reformas. A esquerda teria errado por precipitação, não por prudência. Na verdade, a agenda proposta estava à frente das reivindicações da maioria da população. A estratégia, portanto, não era trazer armas e soldados para uma frente inexistente de batalha, mas trazer a opinião pública para o lado da democracia, utilizando para tanto todos os espaços legais possíveis. É importante notar que não se tratava de negar o direito dos povos à resistência armada contra regimes despóticos, nem de um simples cálculo de correlação de forças militares, que já sinalizaria a derrota das tentativas de luta armada. O PCB foi contra esse caminho de luta porque considerava indispensável atacar a razão 12 1964 – As armas da política e a ilusão armada