1964 As armas da política e a ilusão armada | страница 18
estado e do país, assim como contra companheiros de luta e pessoas
afetivamente muito ligadas a mim. Por conta disso, a partir de
então, a democracia se tornou uma bandeira de luta, jamais fraquejei em defendê-la, em quaisquer condições, por mais adversas que
fossem. Em suma, daí em diante, introduzi minha vida no complexo
e delicado jogo da política.
Nesse rememorar de meio século do Golpe de 1964, não se
pode esquecer de destacar que, na construção do nosso processo
civilizatório, instalaram-se não apenas formas muito singulares e
positivas de convivência humana (a tolerância sempre foi uma boa
marca presente na nossa sociedade e somos um dos povos mais
miscigenados do planeta, se não o primeiro deles), mas também
assumimos atitudes e comportamentos que, apesar de combatidos, ainda dificultam a existência de uma sociedade mais equitativa, fraterna e solidária. Apesar dos esforços e ações dos brasileiros, enfrentando essa tradição, deve-se reconhecer que os vários
períodos e etapas da nossa trajetória como nação, e até mesmo
neste que estamos atravessando, identificam a continuidade de
mazelas que precisam ser extirpadas.
Além de tudo, temos algumas características históricas em
nosso processo político, que há muito exigem solução. Destacam-se particularmente o autoritarismo, as decisões verticalizadas, o
hegemonismo, uma única força ou grupo social que acredita ser
capaz sozinho de liderar um processo e comandar as mudanças, e
o golpismo, a busca de soluções para os problemas do Estado e os
grandes conflitos sociais por meio das forças armadas e da violência, sempre excluindo o povo. Os militares brasileiros cultivaram,
juntamente com as elites conservadoras e as nossas camadas
médias, uma certa vocação golpista que marcou a vida política
nacional durante o século XX. A esquerda brasileira também se
impregnou dela.
As tendências golpistas na formação e na política do PCB
manifestaram-se de forma dramática no movimento de 1935,
quando a direção do partido, sob influência de Prestes e do Komintern, trocou a política de massas da Aliança Nacional Libertadora,
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1964 – As armas da política e a ilusão armada