1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 17
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A DEFESA INTRANSIGENTE
DA DEMOCRACIA
Roberto Freire1
A
pesar de o meu pontapé inicial na vida política se ter dado,
em 1962, em plena turbulência no governo João Goulart e
dois anos antes da quartelada militar que golpeou nossas
instituições democráticas, o 1º de abril tornou-se para mim uma
data de definição, pois jovem estudante da Faculdade de Direito
do Recife, militando clandestinamente no Partido Comunista
Brasileiro, fui um dos milhares de presentes no Campo das Princesas, para defender o governador Miguel Arraes, ameaçado de
ser retirado do poder estadual e ser preso, o que ocorria, naquele
mesmo dia, com o presidente Jango, obrigado a deixar o Palácio do
Planalto, em Brasília.
A violência policial-militar usada naquele dia para nos intimidar se consumou com a morte de um adolescente, à bala, e fez a
multidão se dispersar. Foi desolador, alguns dias depois, saber que
meu querido companheiro e amigo Gregório Bezerra, após torturado nas masmorras inquisitoriais, fora arrastado barbaramente
pelas ruas do Recife, amarrado a um jipe militar.
Foi, sobretudo, duro para mim, ainda no vigor da juventude,
assistir à quebra violenta das liberdades e dos direitos democráticos e a truculência da ditadura militar (prisões, espancamentos,
torturas, cassações etc.) contra as principais lideranças do meu
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Advogado, deputado federal, presidente nacional do PPS.
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