1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 167
Neruda foi governada por Patricio Aylwin, Eduardo Frei, Ricardo
Lagos e Michele Bachelet. Os governos da Concertación conduziram com êxito a integração do Chile ao processo de globalização, o
que fez avançar os traços de modernidade do país, como a melhoria do setor de serviços, a especialização da produção agroindustrial para exportação, a despoluição, a inovação e a diversificação
empresariais. O crescimento contínuo da economia chilena, nesses
anos, até à crise econômica mundial que abriu o século XXI, foi
notável. As temáticas sociais sufocadas durante a ditadura foram
reconduzidas como tarefas do Estado, ampliando a coesão social,
ainda que as políticas públicas dos governos da Concertación
tenham se revelado insuficientes.
No Chile, a manutenção de boa parte dos enclaves autoritários, pelo menos até 2005, acabou por gerar um paradoxo: o
regime democrático está consolidado, mas a presença de Pinochet no imaginário político deixa a sensação de que a transição
permanece inconclusa. A imagem que fica daquele país pós-Pinochet é a de uma “democracia de má qualidade”, resultante de uma
transição muito condicionada aos ditames do regime anterior,
que só conseguiu produzir “governos de negociação” e, com eles,
um “reformismo fraco”.
Em síntese, se houvesse a necessidade de estabelecer alguns
pontos na comparação que fizemos aqui poderíamos dizer que em
relação aos golpes de Estado o que sobressai é a diferença entre os
atos antidemocráticos de 1964 e 1973. Quanto aos regimes autoritários, Brasil e Chile vivenciaram regimes políticos formalmente
distintos, com estratégias hegemônicas também diversas no
sentido de atenderem e agruparem núcleos dirigentes e classes
subalternas. Mesmo assim, os regimes autoritários dos dois países
promoveram resultados pontualmente semelhantes no que se
refere às transformações sociais orientadas no sentido da liberação do mundo dos interesses, da afirmação do individualismo e do
consumismo. Por fim, em relação à conquista da democracia, o
pioneirismo e a longa transição do Brasil contrastam com o encurtamento e a presença militar na transição chilena. Enquanto o
Golpe de Estado, regime autoritário e transição democrática
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