1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 150

as teses golpistas. Pior que isso: as sucessivas quebras da hierarquia militar, no contexto de episódios como a Revolta dos Sargentos ou a Rebelião dos Marinheiros, levavam mais água ainda para o moinho das forças conservadoras e golpistas. Deslanchada a 31 de março, em Juiz de Fora, Minas Gerais, pelas tropas do general Mourão Filho, um velho simpatizante das ideias integralistas, e contando com o apoio decisivo dos governadores dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, a intervenção militar teve um desfecho por assim dizer fulminante. De fato, no dia seguinte, uma vez desbaratado o frágil sistema militar do governo, o presidente do Congresso, o senador Moura Andrade, ignorou a comunicação oficial do presidente da República alertando para a sua permanência em território brasileiro e deu posse ao presidente da Câmara, deputado Ranieri Mazzilli. Os Estados Unidos da América (que, soube-se mais tarde, mantinha todo um dispositivo naval pronto para intervir no Brasil, no quadro da operação Brother Sam) reconheceram imediatamente o novo governo. “Rogo-lhe que aceite os meus calorosos votos de felicidades”, exultava o presidente norte-americano Lyndon Johnson, em mensagem a Ranieri Mazzilli. Detalhe: o presidente João Goulart ainda se encontrava, nesse momento, em território nacional, mais exatamente no Rio Grande do Sul. Caía, assim, o governo constitucional, minado em parte por suas próprias contradições e impasses, sem dúvida corroído também pela avassaladora crise econômica que atingia o país. Não obstante, as forças que o derrubaram (manobrando, inclusive, os militares, que até então se imiscuíam mas não empalmavam diretamente o aparelho de Estado, atuando como uma espécie de moderno Poder Moderador) dificilmente conseguirão ser absolvidas pela História, e isso apesar do apoio inicial que obtiveram junto a determinadas camadas e classes sociais expressivas da sociedade. Afinal, não há nada mais retrógrado do ponto de vista social e também nada mais execrável na perspectiva do humanismo moderno do que um regime de ditadura. Venha de onde vier. 148 1964 – As armas da política e a ilusão armada