1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 148
As origens imediatas de 1964 podem ser buscadas no episódio da renúncia do presidente Jânio da Silva Quadros, a 25 de
agosto de 1961. Como o seu substituto constitucional, o vice-presidente João Goulart (1918-1976) se encontrava em visita oficial à
República Popular da China, os ministros militares de Quadros –
todos extremamente conservadores – se recusaram a lhe passar o
poder, sob a alegação, conforme se lê em um manifesto que divulgaram à nação, de que as “Forças Armadas, infiltradas e domesticadas, transformar-se-iam, como tem acontecido em outros países,
em simples milícias comunistas”.
Não havia nenhum fundamento nisso. Afinal, o próprio João
Goulart sempre se revelara um partidário do “capitalismo honesto,
amigo do progresso, de sentimento sadiamente nacionalista”, como
reiterara algumas vezes. Mas a manobra golpista não foi muito além
dessas acusações, naquele momento. Com efeito, pressionados pelo
movimento popular, no quadro da chamada cadeia da legalidade, sem
o apoio do Congresso e seguramente temerosos de uma divisão nas
forças armadas (Machado Lopes, comandante do III Exército, no Rio
Grande do Sul, insurgiu-se), os chefes militares tiveram que recuar.
Mas o novo presidente assumiu o compromisso de governar em regime
parlamentarista. E somente em janeiro de 1963 o povo votou em plebiscito (mais de 80% dos votos) pelo retorno ao presidencialismo.
Os setores populares mais organizados viveram então uma
fase de grande efervescência política, que se traduziu no crescimento eleitoral dos partidos progressistas, e na influência considerável do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), da União dos
Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab) e da União
Nacional dos Estudantes (UNE). A opção governamental pelas
chamadas reformas de base (propostas formuladas pelo Partido
Trabalhista Brasileiro – ou mais exatamente por Francisco de San
Tiago Dantas – já em março de 1958, assumindo a reforma agrária,
a reforma urbana, a necessidade de controle da remessa de lucros,
o direito de voto para os analfabetos, soldados e marinheiros, além
da ampliação das liberdades sindicais e políticas) fortalecia, sem
dúvida, essas mesmas forças populares.
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1964 – As armas da política e a ilusão armada