100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 72

zação dos meios de produção e circulação, planejamento ultra- centralizado da economia, industrialização extensiva, coletiviza- ção da agricultura, abolição da economia de mercado, métodos de gestão burocráticos e coercitivos; 2. estatização dos sovietes, sindicatos, imprensa e outros órgãos; 3. inexistência de normas democráticas – extintos quaisquer resquícios de liberdade e direi- tos civis e políticos mínimos, as facções e as dissensões foram criminalizadas com o banimento (gulags) ou mesmo eliminação física e o Estado-partido chegou, em alguns momentos, a ganhar caráter terrorista; 4. os problemas das nacionalidades, étnicos e religiosos tratados com a coerção, anexações, remoções e russifi- cação; 5. o marxismo-leninismo tornado ideologia ou doutrina oficial, como um sistema de dogmas que tudo explicava e justifi- cava; 6. conformação de extratos sociais ou estamentos privile- giados, os novos donos do poder: dirigentes partidários (apparat- chiks), alta burocracia estatal (nomenklatura), oficialidade militar e outros, que totalizavam mais de um milhão de cargos. Desde o primeiro momento, houve a tentativa de universalizar o modelo bolchevique de socialismo. Em 1919, foi criada a III Inter- nacional Comunista – IC para impulsionar o processo revolucioná- rio na Europa (em especial na Alemanha). O insucesso desse intento levou a IC a investir em sua eclosão nos países coloniais ou dependentes (Ásia, América Latina e África), com caráter anti-im- perialista e de libertação nacional. Esse modelo teve seu momento áureo no pós-guerra, com sua expansão no leste europeu e no oriente. “A URSS emergiu da guerra como grande potência de natu- reza dual – Estado entre estados e centro do socialismo mundial. O movimento comunista alcançou o ápice de sua expansão por meio da resistência antifascista na Europa e da luta anti-imperia- lista na Ásia (...); era uma superpotência militar, ainda que de cali- bre inferior ao dos Estados Unidos. Em torno dela girava um sistema de Estados satélites, reproduzindo o modelo soviético. Continuado na Europa, o comunismo estava no poder na China e mostrava uma face muito aguerrida na Coreia e no Vietnã. Moscou dirigia um polo do poder mundial dominante no espaço euroasiá- tico e no Extremo Oriente”. (Pons, 2014, p. 29 e 381). Entretanto, já nesse período começou a dar sinais de exaustão pelo acúmulo de problemas e de contradições irresolvidas. O Movimento Comunista Internacional que substituiu a IC (extinta em 1943), já nas décadas de 1950/60, estava fraturado pelas dissidências da Iugoslávia, China e outros regimes e partidos 70 José Antonio Segatto