feita pelas multinacionais. No regime militar, esse progresso não foi
visto pelos que o combateram. Os “reacionários” foram progressistas
e os progressistas foram reacionários. A industrialização por meio
de companhias estatais sonhada pelas esquerdas virou um pesa-
delo. Ninguém garante que um FNM, um fenemê da Fábrica Nacional
de Motores no Brasil, fosse melhor que um caminhão Mercedes ou
Scania, ou que poluísse menos: a lei econômica é mais forte que a
decisão política. O salário dos trabalhadores da Mercedes ou da
Scania de lá não se compara com o dos europeus, mas ganham
mais que a média do mercado. Se o valor gerado é baixo, não se
pode decretar salário alto. Só a produção de riqueza permite distri-
buir riqueza, mas a tendência do capital é concentrar riqueza.
Tecnologia avançada pode ter menos poluição. Desde a segunda
metade de 1980, já houve lá mais retiradas que investimentos de
capital, o que é uma tendência natural da relação entre metrópole e
periferia, mas interessa ao capital o aumento gradual dos salários,
para gerar um mercado interno forte, que vá aumentar a taxa de
lucros. Progressista é entender isso. Para as pessoas viverem melhor
é preciso diminuir a taxa de natalidade. Quanto maior a riqueza,
mais criminalidade e mais conflitos.
O dr. Altenberg, com os óculos na ponta do nariz, consultou
seus apontamentos, olhou em volta e, n otando ouvintes atentos,
continuou:
– No Brasil, o déficit do governo federal vem crescendo desde
1984. Vejam alguns dados: em 1984, o déficit foi de 1,6%; em 1985,
foi de 3,5%; em 1986, de 3,7%; em 1987, ele já saltou para 5,4%,
enquanto que, em 1988, se prevê um salto para 7,4%. Isso obriga
qualquer governo a tomar medidas drásticas, já que uma hiperinfla-
ção se torna inevitável. Três são as soluções teoricamente possíveis
no curto prazo: 1) não mais pagamento da dívida externa e interna
como fonte do déficit; 2) aumento dos impostos para aumentar a
receita; 3) redução das despesas, especialmente com o corte de
funcionários, assistência social e projetos de desenvolvimento.
Dessas três alternativas, nenhuma especula com um aumento súbito
de produção. A primeira contraria os interesses dos países indus-
trializados e dos credores internos, não sendo de se esperar que
aconteça dentro do atual esquema de governo. Poderia haver uma
decisão política, de abater o montante da dívida externa para finan-
ciar o desenvolvimento, mas não se pode crer que isso vá acontecer
por pressões populares ou gestos de generosidade. Nenhum governo
consegue manter a legitimidade se serve a interesses externos
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Flávio R. Kothe