Ênfase Cristã Entrevista com o Missionário Carlos Heron | Page 24

LIVRO EM ÊNFASE Por Pr. Addson Araújo Costa A Igreja em Tempos de Exceção P odemos ter uma árvore em nosso pomar que a cuidamos com certa frequência. Há uma rotina – sabemos a hora certa de regar, o tempo de adubar, podar, a época do ano em que oresce e produz; todo nosso cuidado dedicado a esta árvore é regular, praticamente tudo que ocorre a ela nos é previsível. Até que um incêndio ataca o pomar e chamusca a árvore. Se tentarmos manter a mesma coisa que vínhamos fazendo e não destinarmos a ela cuidados especiais, a árvore provavelmente morrerá. Esta ilustração da árvore pode muito bem representar uma metáfora da igreja que vivemos. Concebemos a igreja como uma instituição coesa, com dias e horários regulares para se reunir nos cultos, fazer estudos bíblicos, escola dominical, escola bíblica de férias e manter inúmeros programas. A igreja se percebe como uma instituição teológica, jurídica e social; tem seus artigos de fé, seus estatutos e estrutura de liderança religiosa o cializada, como normalmente ocorre quando ela vive uma situação histórica em um clima de governo democrático regido por um estado de direito, em tempos de paz. Nunca imaginamos como seria uma igreja em uma situação em que nada disso seria possível, quando muitas das convicções teológicas sequer seriam pensadas posto que não haveria aplicabilidade ou necessidade, até que um incêndio nos atinja e sejamos obrigados a re etir sobre tudo o que já zemos como hábito e o inusitado nos surpreenda. Esta situação é possível e se chama tempos de exceção. Tempos de exceção são aqueles que a igem a humanidade com grandes catástrofes naturais (terremotos, tsunamis, desastres) ou com catástrofes humanas a exemplo da guerra. Como vivem hoje as igrejas que até então tinham um cotidiano comum em diversas regiões do oriente médio e, de repente, viram sua “pátria” tomada pelo Estado Islâmico. Podemos voltar 70 (setenta) anos na história e lembrar-nos dos eventos que assolaram a humanidade, especialmente a Europa, na Segunda Guerra Mundial. Como seria uma igreja no Gueto de Varsóvia? Uma igreja em um campo de refugiados na Síria? Ou como soldados que desembarcaram na Normandia, em grupos de no máximo 10 (dez), reunir-se-iam para louvar juntos ao Senhor, em um domingo, se uns eram pentecostais, outros batistas, um presbiteriano, outro luterano e outro anglicano? Podemos até pensar como um pastor se despediria de 20 (vinte) de seus jovens que iriam para o campo de batalha, quando, no máximo, 2 (dois) deles voltariam. Como celebrar um casamento sabendo que o noivo viajaria na semana seguinte para a guerra? Sem falar de outras situações na guerra, do excesso de idosos, mulheres e crianças na igreja quando os homens em idade de ir para guerra estariam nela. Hoje, também, discutimos detalhes demais sobre a mudança das questões éticas. Em tempos de exceção voltamos às questões fundamentais, como se é certo ou errado tirar a vida de um homem, entregar-se à morte seria suicídio, se matar para defender a vida de outrem é justo. Em um estado de direito, é fácil entender 23