À beira do precipício pd51 | Page 52

A emenda pior que o soneto, as reformas necessárias e a diferença entre “nova”, “velha” e “boa” política Mauricio Huertas S enta que lá vem polêmica! Quando pensei em uma imagem para ilustrar este artigo, foi inevitável lembrar da restaura- ção desastrada da “velhinha de Borja”, como ficou conhecida a bondosa senhora octogenária, restauradora voluntária do interior da Espanha que, há alguns anos, tentou “consertar”, por sua conta e risco (literalmente), uma pintura de Jesus Cristo do século 19. Pois, mal comparando com a campanha eleitoral que mal come- çou oficialmente, a sensação é a mesma ao confrontar a legislação antiga e desgastada que havia anteriormente com esse puxadinho improvisado, essa gambiarra apresentada pelo Congresso Nacional para as eleições de 2018, que agora já sentimos os efeitos, em vez de uma verdadeira, profunda e necessária reforma. O que era ruim ficou pior. Se a população reclamava de campa- nhas caras e do desperdício de recursos gastos para eleger os políticos de sempre, a resposta deles, na contramão do bom senso, foi exatamente criar um fundo público eleitoral, ou seja, entregar de mão beijada mais de R$ 2,5 bilhões para os donos dos parti- dos, somados o fundo partidário tradicional com o novo caixa específico para esta eleição, uma farra bilionária inimaginável com dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação e desenvolvimento para o país, no lugar de financiar a estrutura podre, viciada e carcomida das legendas partidárias. Os campeões do financiamento público também são – e veja que nada é por acaso – os líderes no ranking das denúncias inves- tigadas na Lava-Jato e em outras operações do Ministério Público e da Polícia Federal: MDB, PT, PSDB, PP e PTB, entre outros menos aquinhoados. O que eles pretendiam, com essa legislação remendada em vigor, era cristalizar o domínio político e finan- ceiro deste consórcio fisiologista. Somem-se ao esbanjamento do dinheiro público outras deci- sões como o monopólio do tempo de propaganda no rádio e na TV, a limitação do acesso aos debates e... pronto! Nem Pinky e Cére- bro, aqueles ratinhos do desenho animado, tiveram uma ideia tão genial nas suas armações e trapaças para conquistar o mundo. 50