A emenda pior que o soneto, as
reformas necessárias e a diferença
entre “nova”, “velha” e “boa” política
Mauricio Huertas
S
enta que lá vem polêmica! Quando pensei em uma imagem
para ilustrar este artigo, foi inevitável lembrar da restaura-
ção desastrada da “velhinha de Borja”, como ficou conhecida
a bondosa senhora octogenária, restauradora voluntária do interior
da Espanha que, há alguns anos, tentou “consertar”, por sua conta
e risco (literalmente), uma pintura de Jesus Cristo do século 19.
Pois, mal comparando com a campanha eleitoral que mal come-
çou oficialmente, a sensação é a mesma ao confrontar a legislação
antiga e desgastada que havia anteriormente com esse puxadinho
improvisado, essa gambiarra apresentada pelo Congresso Nacional
para as eleições de 2018, que agora já sentimos os efeitos, em vez
de uma verdadeira, profunda e necessária reforma.
O que era ruim ficou pior. Se a população reclamava de campa-
nhas caras e do desperdício de recursos gastos para eleger os
políticos de sempre, a resposta deles, na contramão do bom senso,
foi exatamente criar um fundo público eleitoral, ou seja, entregar
de mão beijada mais de R$ 2,5 bilhões para os donos dos parti-
dos, somados o fundo partidário tradicional com o novo caixa
específico para esta eleição, uma farra bilionária inimaginável
com dinheiro que deveria ser investido em saúde, educação e
desenvolvimento para o país, no lugar de financiar a estrutura
podre, viciada e carcomida das legendas partidárias.
Os campeões do financiamento público também são – e veja
que nada é por acaso – os líderes no ranking das denúncias inves-
tigadas na Lava-Jato e em outras operações do Ministério Público
e da Polícia Federal: MDB, PT, PSDB, PP e PTB, entre outros
menos aquinhoados. O que eles pretendiam, com essa legislação
remendada em vigor, era cristalizar o domínio político e finan-
ceiro deste consórcio fisiologista.
Somem-se ao esbanjamento do dinheiro público outras deci-
sões como o monopólio do tempo de propaganda no rádio e na TV,
a limitação do acesso aos debates e... pronto! Nem Pinky e Cére-
bro, aqueles ratinhos do desenho animado, tiveram uma ideia tão
genial nas suas armações e trapaças para conquistar o mundo.
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