A escolha errada
e a democracia esfaqueada
Luiz Carlos Azedo
U
m país de dimensões continentais como o Brasil não
costuma andar para trás. Seu progresso tem uma inércia
poderosa, que empurra o país para frente em situações
difíceis, como aconteceu, por exemplo, no governo Sarney: em
plena hiperinflação, todos os indicadores sociais avançaram. Por
isso mesmo, previsões catastrofistas não costumam se confirmar.
No governo Dutra, após a redemocratização de 1945, a esquerda
dizia que o país havia entrado num processo de “atraso progres-
sivo”, porém, a industrialização avançava. Àquela época, muita
gente acreditava que não haveria industrialização com “latifún-
dio e dominação imperialista”; deu-se exatamente o contrário, a
industrialização avançou com o capital estrangeiro; a monocultura
de exportação possibilitou a modernização do campo. Entretanto,
quase 70 anos depois, uma parte da esquerda ainda acredita nisso.
Nos momentos em que o país retrocedeu ou se estagnou, as
escolhas políticas erradas foram deliberadas, para privilegiar
determinados grupos de interesse. Foi o que aconteceu no longo
reinado de Dom Pedro II, por exemplo. Em 1800, o Brasil contava
com uma população de 4,4 milhões de habitantes, um pouco
menos que os Estados Unidos, que tinham 5 milhões. O porte
das duas economias era semelhante. Por causa da escravidão,
com o tempo, a distância se tornou abissal. A renda per capita
do norte-americano triplicou entre 1820 e 1900, passando de 1,3
mil para 4 mil dólares, cinco, sete vezes a do brasileiro. A popu-
lação norte-americana, com o fim da escravidão, saltou de 35
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