À beira do precipício pd51 | Page 175

profissões liberais, a de artista tinha maior representatividade, inclusive entre a população escrava. O Censo de 1872, de acordo com o demógrafo Mario Rodart, coordenador do Núcleo de Pesquisa Histórica Econômica e Demo- gráfica da UFMG, um dos responsáveis pela digitalização do Censo, àquela época o país já pensava estratégias para acabar com a escravidão e pretendia um processo de branqueamento da população. “O foco das políticas públicas era todo nesse sentido”. Questionários foram enviados para 1.440 paróquias de todo o país. Em cada uma delas foi criada uma comissão censitária, responsável por levar uma cópia do questionário a cada casa. As informações diziam respeito a sexo, raça, estado civil, religião, alfabetização, condição (escravo ou livre), nacionalidade e profis- são. O questionário era preenchido por cada chefe de família e devolvido à comissão competente. Quem não o respondesse era penalizado com multa. Os resultados eram encaminhados para a capital onde eram contabilizados manualmente para compor o censo nacional. O Censo de 1872 apontou o total da população de estrangeiros no Brasil: 382.132. Separa os brancos por origem. São 125.876 portugueses, 40.056 alemães e 8.222 italianos, entre outras nacionalidades. Os negros eram considerados todos do mesmo grupo: africanos. Segundo o documento eram 176.057 africanos vivendo no país, porém, divididos entre escravos (138.358) e alfor- riados (37.699). 2 A partir das informações é notável ainda o início da política de embranquecimento do povo, com a chegada dos primeiros grupos de imigrantes europeus. “A solução para o que era visto como um problema (a população negra e indígena) era o embranqueci- mento”, afirma José Luis Petruccelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Em 350 anos de tráfico negreiro, entraram no país cerca de 4 milhões de africa- nos. Entre 1870 e 1930 vieram morar aqui praticamente 4 milhões de imigrantes europeus”, compara. Quando o Censo foi feito, acabava de entrar em vigor no Brasil a Lei do Ventre Livre (28 de setembro de 1871) que tornava livres as crianças nascidas de mulheres escravas. Consequência de 2 Disponível em: . O mal maior 173