Donald Trump passou a ter algo em comum com o presidente chinês,
a partir do momento em que o V-Dem colou a etiqueta da autocrati-
zação no perfil político dos EUA – exatamente quando o presidente
americano chama atenção do mundo para sua inclinação a extrava-
gâncias no trato de fundamentos da democracia liberal.
No ranking do IDL/V-Dem, a diferença de posições entre os
regimes comandados por Trump e Xi é abissal. Os EUA aparecem
em 31º lugar, em ordem decrescente de robustez dos predicados
democráticos, e a China estaciona no pé da escada, na 167ª posi-
ção. Os extremos são a Noruega, no primeiro lugar, e a Coreia do
Norte, na 178ª e última colocação.
No caso dos EUA, há uma soma de negatividades a lhes aumen-
tar o desprestígio. Além de estarem abaixo de 30 países em melhor
posição e integrarem um grupo de 24 agora classificados como em
autocratização, são os primeiros a aparecer na listagem geral do
IDL/V-Dem com o sinal distintivo do retrocesso, uma seta verme-
lha que aponta para baixo. Nas posições de 2016, estavam em 17º
lugar, mas sem a marca desabonadora do retrocesso que ganha-
ram em 2017, já na plenitude do governo Trump.
Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper,
situa as revelações do relatório do V-Dem num cenário em trans-
formação, diferente daquele, já conhecido, em que democracias
liberais ou com forte presença do Estado na economia vinculam-
se de algum modo a regimes de livre mercado. Da mesma forma,
observa, sempre existiu o capitalismo autocrático, do qual a China
é o