À beira do precipício pd51 | Page 113

Donald Trump passou a ter algo em comum com o presidente chinês, a partir do momento em que o V-Dem colou a etiqueta da autocrati- zação no perfil político dos EUA – exatamente quando o presidente americano chama atenção do mundo para sua inclinação a extrava- gâncias no trato de fundamentos da democracia liberal. No ranking do IDL/V-Dem, a diferença de posições entre os regimes comandados por Trump e Xi é abissal. Os EUA aparecem em 31º lugar, em ordem decrescente de robustez dos predicados democráticos, e a China estaciona no pé da escada, na 167ª posi- ção. Os extremos são a Noruega, no primeiro lugar, e a Coreia do Norte, na 178ª e última colocação. No caso dos EUA, há uma soma de negatividades a lhes aumen- tar o desprestígio. Além de estarem abaixo de 30 países em melhor posição e integrarem um grupo de 24 agora classificados como em autocratização, são os primeiros a aparecer na listagem geral do IDL/V-Dem com o sinal distintivo do retrocesso, uma seta verme- lha que aponta para baixo. Nas posições de 2016, estavam em 17º lugar, mas sem a marca desabonadora do retrocesso que ganha- ram em 2017, já na plenitude do governo Trump. Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, situa as revelações do relatório do V-Dem num cenário em trans- formação, diferente daquele, já conhecido, em que democracias liberais ou com forte presença do Estado na economia vinculam- se de algum modo a regimes de livre mercado. Da mesma forma, observa, sempre existiu o capitalismo autocrático, do qual a China é o