A arte sempre foi companheira da jornalista Márcia Kaneko.
Muito mais por talento do que por tradição, já que origamis
nunca fizeram parte da vida dela. “Minha família é bem
brasileira. Na casa dos meus pais a gente comia farinha de
mandioca, arroz e feijão”, conta. Mas bastava passar na frente de
uma papelaria para a então menina desejar ficar ali, sentindo o
cheirinho de papel e namorando estojinhos de crayon. “Preferia
ir a livrarias a lojas de brinquedo; adorava desenhar”, lembra.
Artes Plásticas ou Arquitetura, portanto, eram os caminhos
que a adolescente Márcia imaginava para si. O primeiro não
aconteceu por conta da distância – na época só havia curso
em São Paulo – o segundo, por questões de incompatibilidade.
“Eu e os números não damos certo”, brinca. Assim, o jornalismo
entrou na sua vida e conduziu seus rumos profissionais. O
reencontro com a arte viria tempos depois, quando nasceram os
três filhos.
“Quis estimular as crianças a pintar. Cada um fez uma tela, mas
depois pararam e eu continuei”, relata. Alguns quadros depois,
Márcia descobriu uma técnica que lhe chamou a atenção. “Vi
na TV alguém revestindo cúpulas de abajur com filtros de café
usados e resolvi tentar fazer isso em telas.” Pintando xícaras
com tinta acrílica em cima dos filtros ela chamou a atenção
de grandes empresas, como a rede italiana de departamentos
Coin, que em 2006 encomendou 660 telas. “Comprava filtros
e distribuía para as pessoas, pedindo que usassem e me
devolvessem”, recorda. Depois disso, nunca mais faltou material
para Márcia. A doação de amigos virou um hábito.
Paralelamente aos quadros, ela fazia oratórios com santos em
caixinhas de fósforos e caixas de madeira. Com dificuldade para
encontrar as peças em acrílico, resolveu testar as de gesso. “Vi
a foto de uma máquina de costura antiga que a pessoa pintou
de branco e fez a decoupage de um guardanapo por cima; fiz o
mesmo com os santos de gesso.” Só deu certo quando ela teve
a ideia de recortar os desenhos e colar um por um, ao invés do
guardanapo inteiro. De novo, ao adaptar uma ideia, a artista
criou uma linguagem própria.
Com formação cristã e orientação budista, Márcia conta que
voltou a se identificar com a igreja católica ao fazer as pesquisas
para o trabalho, já que muita gente encomenda santos
específicos – a