Wink Wink Mag #22 | Page 99

A arte sempre foi companheira da jornalista Márcia Kaneko. Muito mais por talento do que por tradição, já que origamis nunca fizeram parte da vida dela. “Minha família é bem brasileira. Na casa dos meus pais a gente comia farinha de mandioca, arroz e feijão”, conta. Mas bastava passar na frente de uma papelaria para a então menina desejar ficar ali, sentindo o cheirinho de papel e namorando estojinhos de crayon. “Preferia ir a livrarias a lojas de brinquedo; adorava desenhar”, lembra. Artes Plásticas ou Arquitetura, portanto, eram os caminhos que a adolescente Márcia imaginava para si. O primeiro não aconteceu por conta da distância – na época só havia curso em São Paulo – o segundo, por questões de incompatibilidade. “Eu e os números não damos certo”, brinca. Assim, o jornalismo entrou na sua vida e conduziu seus rumos profissionais. O reencontro com a arte viria tempos depois, quando nasceram os três filhos. “Quis estimular as crianças a pintar. Cada um fez uma tela, mas depois pararam e eu continuei”, relata. Alguns quadros depois, Márcia descobriu uma técnica que lhe chamou a atenção. “Vi na TV alguém revestindo cúpulas de abajur com filtros de café usados e resolvi tentar fazer isso em telas.” Pintando xícaras com tinta acrílica em cima dos filtros ela chamou a atenção de grandes empresas, como a rede italiana de departamentos Coin, que em 2006 encomendou 660 telas. “Comprava filtros e distribuía para as pessoas, pedindo que usassem e me devolvessem”, recorda. Depois disso, nunca mais faltou material para Márcia. A doação de amigos virou um hábito. Paralelamente aos quadros, ela fazia oratórios com santos em caixinhas de fósforos e caixas de madeira. Com dificuldade para encontrar as peças em acrílico, resolveu testar as de gesso. “Vi a foto de uma máquina de costura antiga que a pessoa pintou de branco e fez a decoupage de um guardanapo por cima; fiz o mesmo com os santos de gesso.” Só deu certo quando ela teve a ideia de recortar os desenhos e colar um por um, ao invés do guardanapo inteiro. De novo, ao adaptar uma ideia, a artista criou uma linguagem própria. Com formação cristã e orientação budista, Márcia conta que voltou a se identificar com a igreja católica ao fazer as pesquisas para o trabalho, já que muita gente encomenda santos específicos – a