Visões da vida mundos vértices Catálogo Visões de vida mundos vértices | Page 8

Aline Crivelari E sse trabalho foi produzido em resposta à atividade O escuro da madrugada proposta em comum acordo pelos estudantes da discipli- na de Oficina de Fotografia, naquele primeiro semestre de 2018, no sentido de produzirmos fotografias que rep- resentassem como o nosso interior refletia-se em nosso exterior durante os dias turbulentos que vivíamos no que tange ao contexto político e social do país. É fato que faz alguns anos que me tornei animal noturno, ora por necessidade – como ocorrera naquele ano de 2018, em que trabalhando todo o dia, varei madrugadas para concluir um mestrado e escrever um livro, entre outras tarefas cumpridas –, ora por necessidade também – de me encontrar com uma parte de mim que exige o silêncio, o frescor, a paz escura das madrugadas. Voltando ao turbilhão daqueles dias: sentíamos todos, nós estudantes, grande cansaço. Alguns, tristeza profun- da. Recolhíamos nossos cacos entre o ódio coletivo des- tilado nas ruas e as alegrias individuais que não podiam fazer greve em nosso espírito jovem. Por minutos faltou esperança, e até ar. Nesses tempos produzi e também meditei intensamente nas madrugadas. Num dia desses, fotografei-me de onde inúmeras vezes ficava observando pela janela a vida quase estática da noite, seus sons sutis, tomando banho de luz do poste de iluminação lá fora. No mais, nessas noites fiz poesia: vento puro, substância da minha alma O eu profundo e o silêncio das profundezas do plan- eta A janela da minha casa, a janela do meu peito está escancarada A madrugada é minha camarada Nela eu respiro bem Não há segredos, mas também não há proteção Viver é deveras arriscado realmente Tudo acaba nos pensamentos sobre o universo, onde impera uma cor bruta, onipotente e multidimensional Ela não tem nome A verdade, a mentira sobre tudo As regras do jogo, finalmente O código feito quebra-cabeça se espalha nas asas da borboleta, nas correntes submarinas, na mandala da goiaba cortada, na corrida do elefante na savana, no brilho do olho, no amor _______________________________________ ¹ Título de poema de Thiago de Mello.