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Helena Dalbone
“ Nunca gostei de flores
As xícaras com formato de casinha foram exaustivamente negociadas
entre eu e minha avó, sem que nenhuma das duas cedesse. Hoje, o jogo
de chá está na minha estante, as louças são lindas, marrons e delicadas,
parecem pequenos chalés. Da casa de minha avó eu trouxe plantas,
plantas que viajaram do Rio até Brasília. Sempre me proibiram de ter
bichos e plantas no apartamento, tão artificial e sintético que me dá
ânsia. Sou rebelde e terei minhas plantas. “Você gosta de folhagem”
disse minha avó. Gosto, gosto pois tenho medo. Se eu cuido minima-
mente bem das plantas sempre terei flores. Vou acordar, vê-las e vou
sorrir porque consigo cuidar de algo. As flores precisam de condições
especiais para florescer, não quero mais decepções e mágoas. Nunca
gostei de flores. Quero um aconchego, o abraço que o cobertor dá no
frio e o gosto que me vem à boca quando escuto o nostálgico som do
ventilador.”