Vida Simples Março de 2017 | Page 7

Para praticar a arte de bem acolher é preciso, antes de tudo, aceitar-se integralmente, do jeitinho que você é. E isso inclui admitir o nosso lado sombrio, a faceta que queremos ocultar dos outros

torno mais tolerante e compreensivo: a visão mais nítida de nossos limites arrefece a vontade de jogar pedras nos outros. E mais outro benefícios: o que está fora já não nos atinge mais com tanta força. E Lucila conta uma historinha para ilustrar essa capacidade da alma em ser flexível. “Um amigo foi visitar o outro e, depois, de tomarem um café, resolveram passar numa banca para comprar jornal. Irritado sem motivo aparente, o dono da banca tratou mal o morador da região. Mas o homem continuou impertubável. O colega dele ficou estupefato. ‘Como você conseguiu ficar assim, impávido, com aquele estúpido?’, exclamou. E o moço respondeu: ‘Também tenho os meus momentos de irritação. Além disso, não vou dar a ele o poder de perturbar a minha paz anterior. O mau humor é dele, e não meu’.”

A história também mostra que acolher o outro com suas características e idiossincrasias pode ser o resultado de uma decisão interna, baseada nos reconhecimentos dos próprios defeitos (quando os conhecemos bem) e a exata percepção do que é meu e o que é do outro. Ficamos mais pacíficos e imperturbáveis assim. O próximo passo também é muito importante. Vejamos.

Saindo do próprio umbigo

“Para oferecer hospitalidade e acolhimento, e aceitar o outro como ele é, com suas diferenças e características, é necessário sair de si mesmo e de seus esquemas habituais”, diz o padre José Rosa, pároco da Igreja Nossa Senhora da Saúde e decano responsável por todas as paróquias de Campos do Jordão, região serrana de São Paulo. E sair da zona de conforto, vencer a resistência inicial e não se render à preguiça, por si só, já ocasiona várias transformações. No acolhimento deixamos de focalizar apenas o próprio umbigo, o “eu”, o “mim” e, principalmente, o “para mim”, para deslocar o olhar para o outro”. Passamos a considerar o que ele mais necessita naquele momento e o que nós podemos oferecer para aliviar seu desconforto. É uma mudança radical e transformadora do “eu” para o “nós”, um salto que pode nos modificar para sempre, principalmente se essa experiência for repetida mais vezes.

Atualmente, o acolhimento ao próximo pode se manifestar de muitas formas, não só ao oferecer abrigo, que sempre pode ser arriscado caso a pessoa seja completamente estranha, mas também ao acompanhar alguém até uma instituição que a receba de maneira responsável. Além disso, sempre é possível ajudar com palavras, auxílio material concreto, apoio e estímulo, ou ainda um longo abraço.

Simbolicamente, hóspedes e visitas também podem ser vistos como anjos disfarçados que costumam trazer uma mensagem muito importante para determinado momento.

é possível ajudar com palavras, auxílio material concreto, apoio e estímulo, ou ainda um longo abraço.

Simbolicamente, hóspedes e visitas também podem ser vistos como anjos disfarçados que costumam trazer uma mensagem muito importante para determinado momento.

Nessa visão, o incômodo se torna uma bênção inesperada: um toque que precisamos ouvir ou uma ação do visitante que gera outros benefícios. Isso pode realmente acontecer, mas não é bom contar muito com essa possibilidade: muitas vezes o benefício gerado por uma ação generosa chega depois, por meio de outras pessoas, em circunstâncias bem diferentes. “Se pensarmos apenas numa recompensa imediata, essa boa ação se transforma num desejo de troca e deixa de ter valor”, diz com precisão o padre José Rosa.

A dor da rejeição

Se falamos do lado de quem acolher, não podemos nos esquecer daquele que deseja ser acolhido. “Quem quer acolhimento precisa insistir e bater na porta mais vezes”, exemplifica o sacerdote. Por isso, diante de uma porta fechada na vida, não desista tão facilmente.

Insista, peça ajuda, organize-se melhor, reavalie seus planos. A resposta sempre pode mudar. Mas, se mesmo assim acontecer a rejeição, lembre-se de que existem várias maneiras de um coração enfrentar esse que é um um dos mais doloridos sentimentos que podemos experimentar. Diante dela, é possível sofrer sem medidas e se deixar submergir ou sofrer para depois reagir e ir em frente. O melhor mesmo é não ligar muito para ela nem exagerar sua importância.

Gostou? Leia mais no nosso site! Acesse o link: https://goo.gl/9ZHne1

........................................................................................

07

MARÇO 2017 vida simples