Very Valentino 6 | Page 14

sendo gráfico e discreto, possui uma vivacidade única que o distingue dos demais designers. Valentino constantemente utilizava técnicas tradicionais de desenho, traduzindo todas as ideias de suas coleções em croquis. Ele decidia sobre um esboço geral e as proporções que utiliz- aria e depois definia a largura do ombro, altura da cintura, o tipo da manga e assim por di- ante. Ele progressivamente re- definia o design, selecionando colarinhos específicos, drapings e cuidadosamente escolhia o comprimento dos modelos. Metodicamente rigoroso em seus designs, quando Valentino desenhava buscava transpar- ecer suas influências e inspi- rações. Em entrevista para a escritora Pamela Golbin, autora do livro “Valentino Themes and Variations”, o designer afirmou que sempre considerou o seu trabalho como o de um escri- tor. “Ao longo dos anos eu es- crevi apenas uma história, uma do meu estilo, em que cada coleção representa um capítu- 14 lo único, com todas as suas emoções, ideias e motivos. Os looks talvez mudem de um capítulo para o outro, mas as característi- cas principais continuam as mesmas, assim como as pessoas e as coisas que me inspiraram”. Em complemento, ele afirma “os temas e as variações de uma coleção para outra mudam, mas a mulher por trás das pregas, bordados e laços continua a mesma”. Assim que terminava uma coleção e precisava materializar suas ideias, o designer pedia para as pessoas que trabalhavam com ele que reproduzissem o que foi feito, para não perderem nenhuma forma ou volume da peça recém desenhadas. Uma técnica espe- cial, chamada de budellini, era utilizada. Ela se resume a cortar cordões finos e colocá-los sobre um pedaço de tule ou organza (tecidos) para criar um contorno exclusivo do que se quer copiar. Para sublinhar o corte impecável de seus desenhos, Valentino os aprimorava com a justaposição de penas coloridas e outros tons vívidos. Ao usar essa técni- ca, ele dava vida a maneira como as mulheres se mo- viam e andavam com suas roupas. Em 2011, a mai- son disponibilizou em seu museu on- line, desenvolvido em parceria com a agência digital Novacom Asso- ciés-Paris e com os arquitetos Patrick Kinmonth e An- tonio Monfreda, um compilado de 30 dos mais famosos designs preto e branco criados pelo estilista na época áurea de sua carreira. Entre os expostos estão o vestido que Julia Roberts usou no Oscar de 2001 e o que a top model espanhola, Euge- nia Silva, vestiu para o editorial da revista britânica Hello em 2004. Todos os modelos traduzem a sensibilidade e a criatividade de Valentino quando se trata de criar. “Ele é único, consegue transforma nada em tudo. Faz peças simples ficarem chiques ao acrescentar algo como um bordado ou um detalhe de renda”, aponta a Profa. de design da Parsons New School of Fashion, Angela Gao. “Prova disso é o uso de pena de faisão no vestido Fall/Win- ter de 1979/1980. Com a saia feita em cetim branco e o top preto, algo simples ficou extraordinário”. Para o Prof. de design Gabriele Goretti o fator-chave de Valentino é “a sutileza. Parece que ele não faz esforço para desenhar. Seus traços são únicos e suas roupas traduzem com maestria o que está no papel. À ESQUERDA GIANCARLO GIAMMETTI E A DIREITA VALENTINO NA DÉCADA DE 60. Não há nenhuma perda nesse processo e, talvez, por causa disso, ele tenha sido tão bem-sucedido em sua carreira. Não adianta ter uma boa ideia se não souber como materializá-la”. Seja pelo trabalho manual, a delicadeza dos bordados ou a excentricidade de combinar bugle beads pretos e brancos com strass, como no vesti- do haute-couture apresentado em 2006, Valentino não será esquecido no mundo da moda. “Ele é único. Poucos designers marcaram uma geração, e ao vestir rainhas, atrizes de Hollywood e criar uma nova cor, Garavani se mostrou inesquecível. Eu acredito que daqui 50 anos ele ainda será lem- brado, talvez não mais pela feminilidade, pelo luxo e pelo requinte que implementou as suas coleções, mas sim pelo mito que se tornou ao estar a 45 anos à frente da única maison italiana que recebeu o prêmio Médaille de Vermeil de la ville de Paris, o equivalente a chave da cidade, pelas mãos do pre- feito Bertrand Delanoë”, finaliza o Prof. Patrick Hughes. 15