V Grandes Escolhas Outubro 2022 | Page 4

luis lopes

editorial

Alentejo , origens e estilos

Os vinhos do Alentejo são definidos por um vasto conjunto de factores , desde logo , a sua origem ou , mais correctamente , origens . Mas também pelo seu estilo , ou perfil particular . Num e noutro caso , em maior ou menor grau , a intervenção humana tem papel primordial .

luis lopes

luislopes @ grandesescolhas . com

Os vinhos do Alentejo , cujos tintos são tema de capa desta edição , constituem , muito provavelmente , o conjunto DOC ( Denominação de Origem Controlada ) mais diverso que existe em Portugal . Uma boa parte dessa diversidade tem a ver com a origem ( origem , sim , terroir é algo muito mais raro e geograficamente preciso ). Numa região enorme , que vai da costa atlântica ao interior fronteiriço e que pelo meio abarca colinas , planícies e serras , com vinhas plantadas numa vasta tipologia de solos , das areias aos granitos , do xisto aos mármores , das argilas aos calcários , tem , necessariamente , de existir um pouco de tudo . No que à origem respeita , o papel do produtor é naturalmente mais restrito . Mais ainda que não possa mudar o clima , pode intervir , de diversas formas , nas qualidades do solo , através de movimentação de terras , mobilização , arrelvamentos , adubação , entre muitas outras práticas . Ao nível da viticultura , o produtor intervém de forma ainda mais decisiva , desde o modelo adoptado ( convencional , produção integrada , orgânico , etc .) – e aqui é justo referir o avanço que o Alentejo leva , face as outras regiões nacionais , em termos de práticas sustentáveis certificadas na vinha e na adega – até à cultura da videira propriamente dita , da poda à condução da planta , da dotação de água até à escolha dos porta-enxertos e castas . No Alentejo , as castas selecionadas pelo produtor determinam boa parte da forma como ele e os seus vinhos se definem . Em regiões clássicas , como Douro , Dão ou Verdes , a categoria IG / Regional ( Duriense , Terras do Dão , Minho ) tem muito pouca expressão e é até sujeita a alguma desvalorização no mercado , o que “ obriga ” ( e bem !) os produtores a focarem-se em meia dúzia de variedades “ tradicionais ”. Já no Alentejo , DOC Alentejo e Regional Alentejano equivalem-se em notoriedade e preço junto do apreciador . Sem esse constrangimento , o leque de castas legalmente colocado à disposição do produtor é imenso , entre variedades mais antigas ou mais recentes na região . O que , se de algum modo promove a diversidade e até , em certa medida , a qualidade ( em teoria , pelo menos , uma casta “ de fora ” só se justifica se trouxer valor acrescentado …) de algum modo há que reconhecer que não favorece uma identidade regional mais assertiva . A casta , a meu ver , é o elemento de transição entre a origem ( que controlamos menos ) e o estilo ou perfil do vinho ( onde controlamos quase tudo ). É aqui , com base nas decisões que toma na vinha e na adega , que o produtor determina como se vê e como quer que o vejam a si e aos seus vinhos . Na prova de mais de 50 tintos alentejanos que Valéria Zeferino fez para esta edição da revista , a autora identifica quatro grandes estilos , ou perfis : dois “ clássicos ” ( um que alia concentração e elegância , outro focado na concentração e potência ) e dois “ modernos ” ( um centrado na intensidade de fruta , estrutura e suavidade , outro que acaba por ser quase neoclássico , recuperando práticas e conceitos de outrora para fazer vinhos mais “ light ” e diferentes ). Acredito que o puzzle Vinho do Alentejo é bem mais complexo , mas tendo a concordar com a Valéria na visão geral . Importante é que cada produtor saiba definir muito bem que caminho ( ou caminhos ) quer seguir e que o assuma na sua identidade vínica ; e que cada apreciador saiba navegar no mar imenso de marcas e perfis de vinho alentejano para que , quando compra uma garrafa , acerte no estilo ( ou estilos ) que , realmente , o satisfazem . A Grandes Escolhas estará sempre presente para dar uma ajuda .

GRANDESESCOLHAS . COM | 2