editorial A Serra
Esta edição da Grandes Escolhas tem como tema de capa os vinhos da Serra de São Mamede . Dizer apenas “ Portalegre ” já seria suficiente para despertar a atenção , justificada pelos recentes investimentos feitos nesta sub-região do Alentejo e pela qualidade e carácter dos vinhos ali produzidos . Mas Serra de São Mamede , enquanto parte da DOC Alentejo- Portalegre , é diferente , uma unidade geográfica e uma realidade vitivinícola com uma identidade vincada e muito própria .
luis lopes
Quando se fala de Portalegre numa perspectiva de vinha e de vinho , devemos visualizar ( pelo menos ) três realidades distintas , correspondendo a outras tantas unidades geográficas . Primeiro , o distrito de Portalegre , que coincide com o chamado Alto Alentejo , limitado a norte pela Beira Baixa . É uma vasta região que vai desde Elvas e Campo Maior , a sul , até Gavião e Nisa , a norte . Este é claramente um Alentejo mais verde na paisagem , mais ondulado na orografia e mais fresco no clima . Embora não olhemos hoje para os 15 concelhos do distrito como sendo , globalmente , de forte implantação vitivinícola ( ao contrário do que acontece com muitos outros concelhos dos distritos de Évora e Beja ), não podemos esquecer que aqui se situam algumas das mais antigas casas de vinho do Alentejo , desde logo Tapada do Chaves ( Portalegre ), Mouchão ( Sousel ) e , mesmo , Fundação Abreu Callado ( Avis ) que , embora sem a notoriedade das anteriores , engarrafa vinho desde os anos 50 . Quando apertamos o foco geográfico , chegamos então a Portalegre enquanto sub-região da Denominação de Origem Alentejo . Aqui encontramos a vinha e o vinho em todo o seu esplendor , numa expressão diferenciadora do carácter Alentejo , já de si muito diversificado em função da multiplicidade de solos , orografias , climas , castas . A DOC Alentejo-Portalegre abrange o concelho de Portalegre e pequenas partes dos concelhos de Castelo de Vide , Crato , Marvão e Sousel . Os vinhos DOC Alentejo-Portalegre são claramente marcados pela Serra de São Mamede , que exerce a sua influência desde as explorações situadas no seu sopé até aos vinhedos localizados mas zonas mais altas . Muitas das vinhas mais antigas do Alentejo situam-se precisamente em Portalegre ( como as parcelas tinta e branca da Tapada do Chaves , com registos de plantação de 1901 e 1903 ), para além de várias outras espalhadas pela Serra e cuja recuperação e preservação contribui decisivamente para o carácter dos vinhos aqui produzidos . Dentro da DOC , porém , existe uma unidade geográfica mais pequena que , embora não esteja oficialmente individualizada em termos vitivinícolas ( ao contrário do que é habitual noutros países europeus ), revela uma forte identidade em termos dos vinhos que origina : a Serra de São Mamede propriamente dita , local mágico onde a altitude dita a sua lei . Ali , a floresta alterna com vinha , plantada , regra geral , entre os 500 e os 700 metros de altitude . Vinhas velhas e vinhas mais recentes , produtores de perfil mais clássico ou mais moderno , juntam-se num fantástico mosaico vitivinícola e cultural , dando corpo àquilo a que podemos - por enquanto apenas “ oficiosamente ” - chamar , os vinhos da Serra de São Mamede . Nem melhores nem piores do que outros grandes vinhos de Portalegre ou do Alentejo , mas , sem dúvida alguma , diferentes . E , também por isso , tremendamente entusiasmantes . luislopes @ grandesescolhas . com
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