editorial
Online
A internet aumentou desmesuradamente o seu peso nas nossas vidas profissionais ( e pessoais !) desde março de 2020 . No sector do vinho , a verdade é que o online , não resolvendo nada e , muito menos ( longe disso ), substituindo a interação pessoal , atenua os efeitos que o distanciamento social nos impõe . E em algumas áreas , quando bem usadas , as soluções online são de tal forma eficazes que , acredito , nunca mais voltaremos a trabalhar como antes da pandemia .
luis lopes
luislopes @ grandesescolhas . com
R euniões , apresentações , vendas , muito do que fazemos hoje deixou de ser presencial e passou a virtual . No meu caso , nunca acreditei naqueles que , quando o covid-19 dinamitou os negócios , apontaram o e-commerce como solução milagrosa . Hoje , a grande maioria dos produtores de vinho portugueses possui uma loja online ou trabalha com um parceiro nessa área , mas quase todos confessam que as vendas são residuais . No que respeita à comunicação produtor / líderes de opinião ou produtor / consumidor , também , confesso , desconfiei da eficácia do online . As muitas apresentações de vinhos a que assisti através das habituais plataformas ( Zoom , Teams ...) reforçaram essa desconfiança . Algumas foram absolutamente patéticas , com produtores calados e estáticos enquanto meia dúzia de jornalistas e sommeliers provavam , igualmente sisudos , o vinho que fora enviado para casa , interrompendo o desconfortável silêncio com uma ou outra pergunta do tipo “ que grau tem este vinho ?” mostrando que nem a ficha técnica do produto se tinham dado ao trabalho de consultar . No entanto , no meio de tudo isso , uma ou outra apresentação dinâmica , bem conseguida , interventiva , sugeriu-me que o online poderia funcionar como ponte de comunicação , desde que bem utilizado . Recentemente , dois eventos completamente distintos , derrubaram as minhas dúvidas e revelaram-me o enorme potencial da ferramenta que temos em mãos . Num deles , participei como convidado na adega de um produtor , enquanto através do Zoom era feita a apresentação de um vinho para um grupo de 20 jornalistas e sommeliers de topo no Brasil . Não foi uma apresentação vulgar . Espalhados pela gigantesca metrópole de São Paulo , esses 20 profissionais receberam , ao mesmo tempo , um kit composto por um prato de bacalhau elaborado por um famoso restaurante de cozinha portuguesa e um frappé selado com garrafa e gelo . Na adega , um ecrã de grande formato revelava as caras dos participantes , incluindo o importador local . O almoço decorreu como se estivéssemos todos na mesma sala . O produtor , e eu próprio , fomos bombardeados com perguntas interessantes e interessadas , ouvidas e respondidas mais facilmente do que se nos encontrássemos numa comprida mesa . Saí dali a pensar que : primeiro , a acção deve ter saído muito mais barata ao produtor do que se tivesse voado para São Paulo e pago a refeição num restaurante ; segundo , muitas daquelas pessoas nem sequer iriam comparecer no restaurante e ali estavam todas , confortavelmente , em suas casas ; terceiro , nenhum deles se vai esquecer nem do momento nem do vinho . O outro evento foi muitíssimo mais ambicioso , na escala e nos meios envolvidos . Nunca , no mundo , se fez algo como o Vinhos de Portugal , realizado nos dias 23 , 24 e 25 de outubro e transmitido online para os domicílios de quase 1100 pessoas , que compraram os bilhetes ( com a opção de packs de vinhos ) no Brasil e em Portugal . O evento dos jornais Público , O Globo e Valor Económico , em parceria com a Viniportugal , e em que tive o privilégio de participar como um dos orientadores das sessões , realizou 62 lives / entrevistas de 25 minutos com produtores e 16 provas temáticas de 60 minutos . A milhares de quilómetros do local da acção , grupos de amigos e famílias abriam as garrafas recebidas , assistiam às provas , questionavam oradores e produtores . O enorme sucesso desta iniciativa substitui o contacto pessoal e a interacção numa sala de provas ? Não , definitivamente . Mas evidenciou-se como um modelo alternativo , agora , e complementar , no futuro . O online é uma ferramenta , como um martelo ou um automóvel . Posso estragar uma parede quando queria pregar um prego ou atropelar alguém quando apenas pretendia levar-me a um local . No fundo , o online não é mais do que o reflexo das pessoas que o usam .
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