V Grandes Escolhas Agosto 2022 | 页面 4

luis lopes

editorial

O feliz regresso do Loureiro

“ Eu vim de longe De muito longe O que eu andei pra aqui chegar ”
Levou tempo , é verdade . Mas temos hoje , na região dos Vinhos Verdes , um sólido conjunto de produtores a ver na casta Loureiro muito mais do que uma uva rentável . Com conhecimento técnico , talento e ambição , tiram desta casta o máximo partido , buscando a excelência . Os vinhos estão aí e têm grande qualidade , carácter e , para espanto de muitos , longevidade .

luis lopes

luislopes @ grandesescolhas . com

A lírica da canção de José Mário Branco , nas suas múltiplas interpretações , aplica-se na perfeição à variedade Loureiro e aos vinhos que dela nascem , tema de capa desta edição da Grande Escolhas . Desde logo pela antiguidade da casta . Com origens na Galiza ( Rias Baixas e Ribeiro ) e no noroeste de Portugal , em 1790 era já classificada por Lacerda Lobo ( chamava-lhe Loureira ) como muito antiga e localizada em Melgaço e Vila Nova de Cerveira . Menos de um século depois ( 1875 ), o Visconde de Vila Maior situava-a já , sem margem para dúvidas , naquele que é hoje considerado o seu terroir de eleição , o vale do Lima . Para quem , como eu , sempre associou Loureiro ao Lima , não deixa de ser intrigante perceber que passou primeiro ( e , ainda por cima , sem deixar rasto !) pelo vale do Minho . Mas , se pensarmos bem , faz sentido : sendo uma casta tradicional na Galiza , seria estranho que “ saltasse ” por cima do rio Minho para “ aterrar ” no rio Lima . As variedades de uva , como bem sabemos pelos exemplos Baga e Alicante Bouschet , entre outros , nem sempre atingem o seu máximo potencial nos locais onde nasceram . Ainda por cima , ao contrário da sua conterrânea Alvarinho ( que dá o seu melhor na terra mãe , Monção e Melgaço , mas mostra muita classe em diferentes solos e climas ), a uva Loureiro , é mais picuinhas quanto ao local onde é plantada . E a parte mais atlântica da região dos Vinhos Verdes é , claramente , a sua praia . O que o Loureiro andou para aqui chegar , parafraseando o Zé Mário , pode também ser visto no sentido figurado . Lembro-me bem do que eram os varietais de Loureiro nos anos 90 . É óbvio , os Vinhos Verdes , no seu conjunto , cresceram enormemente desde então . Mas , com raras excepções , os vinhos de base Loureiro que existiam na década de 90 eram demasiado medíocres , sobretudo quando comparados com os Verdes de lote ( Loureiro-Arinto-Trajadura-Azal ) feitos pelos mesmos produtores . O denominador comum dos Loureiro da época era a extrema facilidade com que passavam de um vinho floral e citrino a um vinho amarelado , pesadão e oxidado de aromas e sabores . Entre um estado e outro , frequentemente , distavam apenas 6 ou 9 meses . E quando não era a oxidação era o cheiro a pano molhado que , logo ao nascer , tapava qualquer veleidade de a fruta se mostrar . É fácil , mas errado , imputar culpas à ausência de condições de adega . Desde meados dos anos 80 que grande parte dos produtores dos Verdes , grandes e pequenos , tinha inox e sistemas de frio instalados . Os problemas estavam na vinha , na vindima , e no desconhecimento geral de como trabalhar uma uva delicada e elegante como a Loureiro . E , acima de tudo , na falta de ambição . A Grande Prova que apresentamos este mês , com tantos Loureiro notáveis em qualidade , carácter e longevidade , mostra uma realidade tão distinta que mais parece estarmos a falar de outra casta . Mas a uva esteve sempre lá . E casas pequenas em área de vinha , como Ameal , médias , como Anselmo Mendes ou grandes , como Aveleda , só para dar três exemplos , sabem desde há muito como tirar partido do seu elevadíssimo potencial . Entusiasmante é também perceber que , na última meia dúzia de anos , novos produtores cheios de talento e dinamismo elegeram a Loureiro como porta-estandarte . Deixo dois indicadores significativos : nos 9 Verdes Loureiro que classificámos acima de 17,5 pontos , não havia nenhum da mais recente vindima , distribuindo-se pelas colheitas de 2020 , 2019 , 2018 , 2017 , 2016 e 2015 . Outro sinal de ambição : o preço médio de venda ao público destes 9 vinhos ronda os € 20 . A continuar assim , parece que o Alvarinho vai ter de partilhar o trono : o Loureiro está a chegar .

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