UALGORITMO 1 Ualgoritmo N1 2019 | Page 9

menos probabilidade de experienciar um evento negativo do que outras pessoas. Distância psicológica É um processo psicológico que faz com que as pessoas se distanciam temporalmente do risco, percecionando-o como distante no tempo. Normalização do risco É um processo que ocorre quando as pessoas estão constantemente expostas e conscientes de um risco; a normalização do risco é uma estratégia psicológica para lidar com o risco, fazendo com que as perceções de risco diminuam e o bem-estar psicológico aumente. Biografia dos autores Rita B. Domingues é Investigadora Auxiliar na UAlg. É licenciada em Biologia Marinha, mestre em Ecologia Marinha e doutora em Ciências do Mar. Mais recentemente licenciou- se em Psicologia e está atualmente a concluir o mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde e o doutoramento em Psicologia. Márcio C. Santos é licenciado em Psicologia e estudante de Medicina na UAlg. portas dos residentes da Praia de Faro. As respostas que nos deram permitiram compreender como, apesar de estarem cientes dos perigos, não querem sair por estarem muito apegados à praia. Ao contrário do que estávamos à espera, os residentes têm uma perceção de risco elevada, ou seja, eles sabem que estão em perigo. No entanto, o seu apego à praia e a sua recusa em sair, mesmo sabendo os perigos que correm, têm por base dois fatores: o viés do otimismo e a distância psicológica. Por um lado, nunca houve fatalidades na Praia de Faro, apenas danos materiais devido às tempestades; por isso, os residentes desenvolveram um otimismo em relação à sua segurança na praia. Por outro lado, os residentes acreditam que a praia está em perigo e que um dia a desgraça acontece – “um dia”, “no futuro”, mas não agora; a população da Praia de Faro perceciona as ameaças como distantes no tempo, o que contribui para que a sua preparação face às ameaças costeiras seja baixa. Verificámos também que a principal fonte de informação relativamente aos riscos nos residentes da Praia de Faro é a sua própria experiência de vida. Pelo contrário, a educação formal e de campanhas de educação ambiental têm pouco impacto nos residentes da Praia de Faro (Fig. 2). Tal contrasta como o sentimento geral de cientistas e gestores da costa, que assumem que se deve dar mais informação e educação às pessoas para que as suas perceções de risco aumentem e assim tomem medidas preventivas em relação às ameaças costeiras. Porém, essas ações até podem ter o efeito contrário, levando as pessoas a normalizar o risco. A normalização de risco reflete-se numa diminuição da perceção de risco ou num aumento da distância psicológica. Os resultados deste estudo mostram como é importante ter um conhecimento sólido dos processos psicológicos para uma gestão costeira mais eficaz e mais próxima dos cidadãos. Saul Neves de Jesus é Professor Catedrático, 7