TWENTY.THIRTY 3º edição | Page 11

ENTREVISTA
" NÃO FAZ SENTIDO PENSAR A SUSTENTABILIDADE NUMA ÓTICA FRONTEIRIÇA "
" Tiramos a casca à sustentabilidade " é o mote do projeto Os Fora da Casca . Lançado após o início da quarentena obrigatória , esta iniciativa comunica a sustentabilidade de forma abrangente e acessível , de maneira a ter um impacto na geração mais jovem . Verónica Belchior faz parte do projeto e mostrou-nos a sua perspetiva relativamente ao desenvolvimento sustentável , a importância do debate e as desigualdades que os jovens e o mundo enfrentam .
Como nasceu o projeto ? Porquê “ Os Fora da Casca ”? Antes de mais , convém dizer que este projeto começou bem antes de ser “ Os Fora da Casca ”. Nós começámos em abril de 2020 , naquela altura chamávamo-nos “ QuarenTema Talks ”, porque foi na primeira quarentena . Eu tinha acabado de chegar da Finlândia e tive que fazer quarentena obrigatória , então estava no Barreiro , em casa de um amigo meu , e comecei a entender que havia um excesso de informação sobre o caos que era a Covid e sobre as restrições que íamos ter todos . Eu soube que deveria haver uma plataforma mais livre , em que nós pudéssemos falar sobre outros temas , e daí surgiu o “ QuarenTema Talks ”. Numa breve explicação histórica , comecei eu sozinha , o “ QuarenTema Talks ” foi evoluindo e entraram duas pessoas para a equipa : a Luísa e o Diogo . Nesse momento , fizemos uma reformulação tanto da imagem , como do nome , e ficámos “ Os Fora da Casca ”. E porquê “ Os Fora da Casca ”? Porque estávamos um pequeno brainstorm e estávamos a pensar que já estávamos mesmo fartos que toda a gente dissesse que só pensa fora da caixa , fora da caixa , fora da caixa e nós pensámos “ ok , nós nem somos fora da caixa , é mesmo fora da casca ”. Queremos mesmo espremer o sumo relativamente aos temas e então achámos o nome diferente , mais jovem , e assim ficámos .
Em que temas se focam ? Essa é uma pergunta também interessante , porque quando se fala de sustentabilidade , fala-se de muita coisa . Fala-se de ambiente , de inclusão social , fala-se também das vertentes económica e governativa . Sustentabilidade é interseção de tudo isso . Às vezes é um pouco difícil de definir em que temas é que nos focamos , mas sem dúvida que é no desenvolvimento sustentável de uma forma holística e transversal . E isso significa que muitas vezes podemos ter segmentos que vão falar muito sobre democracia , sobre participação política , como também podemos abordar permacultura , permacultura urbana , até conservação de habitats . Portanto , nós abordamos todo o tipo de temas que envolvam a participação em prol de desenvolvimento sustentável .
Esse pilar está para nós muito bem assente e também está muito bem assente que queremos tratar todos esses temas de uma forma informal . Ou seja , um pouco democratizar o acesso à informação que é útil e relevante e fazer isso sem hierarquias , de uma forma que inspire à ação . Pretendemos diferenciar-nos na forma como a informação chega a quem nos ouve . Não ser mais um blogue ou mais um sítio onde se vai buscar informação de um expert , mas sim um espaço , uma bolha de partilha e onde se inspire para a ação . Os temas variam muito . Se vocês forem ver os nossos segmentos , falamos de tudo um pouco , mas sempre de uma forma jovem e com o pilar bem assente no desenvolvimento sustentável .
Muitas vezes a palavra ‘ sustentabilidade ’ é associada às alterações climáticas . O que é realmente sustentabilidade ? A sustentabilidade é um modelo de desenvolvimento , acima de tudo . E , ultimamente , associa-se a sustentabilidade a uma redução da pegada ecológica . Toda a gente pensa nisso . Substituir as palhinhas de plástico por palhinhas de alumínio , diminuir o plástico de uso único . Mas a verdade é que a sustentabilidade nasceu há muito tempo . Ainda Portugal estava sob uma ditadura e já eram publicados artigos sobre modelos de desenvolvimento sustentável . No fundo , é um modelo de gestão de recursos de todo o tipo , tanto recursos naturais , como recursos intelectuais - uma gestão de recursos que faça sentido a nível de longo prazo . Ou seja , gerir os recursos hoje para que eles estejam disponíveis da mesma forma para as gerações futuras . E isto leva a uma interseção de que eu falei no início de decisões ambientais , decisões económicas , decisões sociais , mas também governativas . Porque não faz sentido pensar a sustentabilidade numa ótica fronteiriça . Ou seja , o que eu faço em Portugal tem de estar conectado com o que está a acontecer no Afeganistão , na América do Sul , nos Estados Unidos e na China . Não há desenvolvimento sustentável em Portugal que faça sentido se todos os outros países não estiverem em paz ou se não estiverem a trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável também
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