Turismo | Travel Belize - Especial América Central | 2014 | Page 3
Domingo 29
março de 2015
A TRIBUNA
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Turismo
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CONTINUAÇÃO DA PÁGINA D-4
FOTOS CLAUDIO VITOR VAZ
Balé dos tubarões-lixa, junto com arraias, moreias e outras espécies marinhas, é o ponto alto do espetáculo das profundezas do Shark Ray Alley
Corais em forma de cone verde-limão surpreendem em Coral Garden
Você já pensou em
dançar com tubarões?
Mergulho ao redor de Caye Caulker garante a grata experiência
CLAUDIO VITOR VAZ
REPÓRTER FOTOGRÁFICO,
ENVIADO ESPECIAL À AMÉRICA CENTRAL
Quando o sol dá as caras em
Caye Caulker, eu já estou na
praia com a câmera fotográfica.
Aos poucos, dou-me conta por
que essa ilhota é tão procurada
por gente de todas as nacionali-
dades. Go Slow não é uma frase
de efeito, mas um mantra local.
Jovens e velhos com seus drea-
dlocksmisturam-se aosvisitan-
tes e conversam num simpático
inglês caribenho, enquanto ca-
minham pela orla de um mar
azultecnocolor.
Crianças de uniforme azul e
branco despedem-se dos pais e
seguem de bicicleta para a esco-
la pela Front Street. Perder-se
no embalo do cotidiano de
Caye Caulker é mergulhar em
sua história e na de Belize. E
pensar numa civilização que
andou por ali há mais de 3 mil,
os maias.
No segundo dia em Caye
Caulker, conheci o casal norte-
americano Jeff e Nicole, os pro-
prietários do Bella’s Hostel
que, com o filho Jasper, de qua-
tro meses, e o belizenho radica-
do na Dinamarca, Dice, vivem
e gerem o local.
Encontrei hóspedes argenti-
nos, norte-americanos, ale-
mães, australianos, japoneses,
holandeses e Romi, da Mongó-
lia – que surpreendeu a todos
numa noite, ao presentear Jeff
e Nicole de uma maneira espe-
cial pelo acolhimento. Enquan-
to eu conversava com Jeff, o
hóspede das estepes asiáticas
interrompeu-nos pedindo o si-
lêncio de todos na sala.
Um cantoguturalressoou pe-
lo ambiente, tendo como fun-
do o som da chuva lá fora. Era
um Khoomei, canto tradicio-
nal mongol, normalmente exe-
cutado por homens. Acredito
que nenhum dos viajantes pre-
sentes naquela noite vai esque-
cer essa experiência.
DANÇANDO COM TUBARÕES
Assistindo aos vídeos de Taka,
um viajante japonês que estava
hospedadono Bella’s,fiquei im-
pressionado com as cenas de
um mergulho ao redor da ilha.
Procurei uma agência que ofe-
recesse o passeio e segui na
manhã seguinte para Coral
Garden, South Channel e Sha-
rk Ray Alley. De fato, aquele
paraíso subaquático existia.
Peixe-papagaio, moreias e tar-
tarugas-de-pente passeavam
entre corais fluorescentes, en-
Fique sabendo
❚ Idioma: além do crioulo belize-
nho e das línguas Garifuna,
Maia e Menonita, o castelhano
também é falado na ilha, por cau-
sa da proximidade com os vizi-
nhos hispano-falantes. Porém,
a língua oficial em Belize é o
inglês, devido à herança
colonial britânica.
❚ Passagem aérea: São Paulo/
Belize – Cartagena/São Paulo:
US$ 1.080.
❚ Vistos: os brasileiros não preci-
sam de vistos para permanência
de até 90 dias em Belize. Mas há
uma taxa de saída de US$ 17,50.
❚ Despesas em Belize: média diá-
ria hospedagem/alimentação),
US$ 25; transporte: barco Belize
City/Caye Cauker/Belize City,
US$ 22; ônibus Belize City/
Fronteira Guatemala, US$ 5.
volvidos por um cristalino plas-
ma de águas marinhas. Depois
de despistar uma moreia ver-
de, cheia de dentes, que confun-
diu a alça da minha câmera
com algum petisco, fui conver-
sar com os guias daquele pas-
seio, os irmãos Andrew e Javier
Novelo, da agência Anwar, e
perguntei sobre opróximo mer-
gulho. Javier respondeu: “Va-
mos dançar com tubarões”.
O Shark Ray Alley faz parte
da Reserva Marinha de Hol
Chan e é considerado um dos
setemelhoreslugares paramer-
gulho no Caribe, por causa da
presença das vedetes da fauna
marinha de Belize. Na medida
em que nosso barco se aproxi-
mava do Shark Ray Alley, man-
chas escuras rodeavam a em-
barcação. Andrew desligou os
motores e começou a jogar pe-
daços depeixe na água.As man-
chas tomavam formas e An-
drew sugeriu em seu tom for-
mal: “Desçam, é hora de dan-
çar!”.
Sim, o mergulho desta vez
era entre tubarões, mas não
aqueles de dentes afiados e as-
sustadores, mas tubarões-lixa,
com pequenas mandíbulas
acostumadas a mastigar peixes
nanicos e algas marinhas. Mas
meu receio não durou muito; e
em pouco tempo estava ali a
misturar-me com dezenas de
tubarões e arraias que mais pa-
O casal de
americanos
Jeff e Nicole,
com o filho
Jasper,
é o dono
do Bella’s
Hostel
reciam estar preocupados em
comer um peixinho ou outro
do que com minha presença.
‘ONE MORE NIGHT’
Eu já tinha me afeiçoado ao
pessoal e ao local de tal forma
que estava difícil deixar a ilha,
mas a estrada me esperava. Du-
rante o jantar regado à cerveja
belizenha Belkin, que Dice pre-
parou para os hóspedes do
Bella’s, acertei o pagamento dos
dias anteriores com Jeff, e per-
guntei se poderia deixar pago
mais uma noite. Ele sorriu com
seus sossegados olhos azuis e
apontou para a frase pintada
acima do sofá. “Mais uma noite
é a frase que mais escutamos
nestacasa,seja bem-vindo”.
Mais um dia para curtir a paz
de uma ilha que vive do turis-
mo, mas não abre mão do estilo
câmera lenta de ser, da alegria
nos semblantes negros e mesti-
ços, do som do reggae a ecoar
pelos becos, das crianças que
ainda brincam de bola de gude
nas ruas. Mais um dia e mais
uma noite eram poucos para
desvendar esse pedacinho de
Belize, mas era o que eu tinha,
totalizando quatro dias de esta-
da. Na manhã seguinte segui
para a capital Belmopan, pa-
ra desfrutar a última Belkin
em solo belizenho, e então
partir para a fronteira com a
Guatemala, ao sul e a oeste de
Belize, nosso destino do próxi-
mo domingo.