Three Fictions Three Fictions | Page 32

Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, talvez a catálogo de catálogos; agora que os meus olhos quase não podem decifrar o que escrevo, preparo-me para morrer, a poucas léguas do hexágono em que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me atirem pela varanda fora; a minha sepultura será o ar insondável: o meu corpo fundir-se-á dilatadamente, corromper-se-á e dissolver-se-á no vento WZQOQVILWXMTIY]MLIY]MuQVÅVQ\I)ÅZUWY]MI*QJTQW\MKIuQVterminável. Os idealistas argumentam que as salas hexagonais são uma forma necessária do espaço absoluto ou, pelo menos, da nossa QV\]QtrWLWM[XItW)TMOIUY]M]UI[ITI\ZQIVO]TIZW]XMV\IOWVIT é incebível. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revele uma câmara circular com um grande livro circular de Iombada contínua, que segue a toda a volta das paredes; mas o seu testemunho é suspeito; as suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico é Deus.) Para UQUu[]ÅKQMV\MXWZWZIZMXM\QZWLQ\IUMKTn[[QKW"A Biblioteca é uma esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível. )KILI]ULW[U]ZW[LMKILIPM`nOWVWKWZZM[XWVLMUKQVKW prateleiras; cada prateleira encerra trinta e dois livros de formato uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página, de quarenta linhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor preta. Também há letras non dorso de cada livro; essas letras não indicam VMUXZMÅO]ZIUWY]MLQZrWI[XnOQVI[;MQY]MM[[IQVKWVM`rWXWZ ^MbM[XIZMKMUQ[\MZQW[I)V\M[LMZM[]UQZI[WT]trWK]RILM[KWJMZta, apesar das suas trágicas projecções, é talvez o facto capital da história) quero rememorar alguns axiomas. 7XZQUMQZW")*QJTQW\MKIM`Q[\Mab aeterno. Dessa verdade cujo corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma men- 30 JO RG E LU IS BORGES te razoável pode duvidar. O homem, o bibliotecário imperfeito, pode ser obra da sorte ou dos demiurgos malévolos; o universo, com a sua elegante dotação de prateleiras, de tomos enigmáticos, de escadas infatigáveis para o viajante e de Iatrinas para o bibliotecário sentado, sòmente pode ser criação de um deus. Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar estes rudes símbolos que a minha mão falível garatuja na capa de um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas, negríssimas, inimitavelmente simétricas. O segundo: 7VƒUMZWLM[yUJWTW[WZ\WOZnÅKW[u^QV\MMKQVKW1 Essa comprovação permitiu, depois de trezentos anos, formular uma teoria geral da Biblioteca e resolve