Como todos os homens da Biblioteca, viajei na minha juventude; peregrinei em busca de um livro, talvez a catálogo de catálogos; agora que os meus olhos quase não podem decifrar o que
escrevo, preparo-me para morrer, a poucas léguas do hexágono em
que nasci. Morto, não faltarão mãos piedosas que me atirem pela
varanda fora; a minha sepultura será o ar insondável: o meu corpo
fundir-se-á dilatadamente, corromper-se-á e dissolver-se-á no vento
WZQOQVILWXMTIY]MLIY]MuQVÅVQ\I)ÅZUWY]MI*QJTQW\MKIuQVterminável. Os idealistas argumentam que as salas hexagonais são
uma forma necessária do espaço absoluto ou, pelo menos, da nossa
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é incebível. (Os místicos pretendem que o êxtase lhes revele uma
câmara circular com um grande livro circular de Iombada contínua, que segue a toda a volta das paredes; mas o seu testemunho é
suspeito; as suas palavras, obscuras. Esse livro cíclico é Deus.) Para
UQUu[]ÅKQMV\MXWZWZIZMXM\QZWLQ\IUMKTn[[QKW"A Biblioteca é uma
esfera cujo centro cabal é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível.
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prateleiras; cada prateleira encerra trinta e dois livros de formato
uniforme; cada livro é de quatrocentas e dez páginas; cada página,
de quarenta linhas; cada linha, de umas oitenta letras de cor preta.
Também há letras non dorso de cada livro; essas letras não indicam
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^MbM[XIZMKMUQ[\MZQW[I)V\M[LMZM[]UQZI[WT]trWK]RILM[KWJMZta, apesar das suas trágicas projecções, é talvez o facto capital da
história) quero rememorar alguns axiomas.
7XZQUMQZW")*QJTQW\MKIM`Q[\Mab aeterno. Dessa verdade cujo
corolário imediato é a eternidade futura do mundo, nenhuma men-
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JO RG E LU IS BORGES
te razoável pode duvidar. O homem, o bibliotecário imperfeito,
pode ser obra da sorte ou dos demiurgos malévolos; o universo,
com a sua elegante dotação de prateleiras, de tomos enigmáticos,
de escadas infatigáveis para o viajante e de Iatrinas para o bibliotecário sentado, sòmente pode ser criação de um deus. Para perceber a distância que há entre o divino e o humano, basta comparar
estes rudes símbolos que a minha mão falível garatuja na capa de
um livro, com as letras orgânicas do interior: pontuais, delicadas,
negríssimas, inimitavelmente simétricas.
O segundo: 7VUMZWLM[yUJWTW[WZ\WOZnÅKW[u^QV\MMKQVKW1 Essa comprovação permitiu, depois de trezentos anos, formular uma teoria
geral da Biblioteca e resolve